quinta-feira, 15 de setembro de 2011

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“O tolo não pergunta”, diz um provérbio chinês, concluindo com aparente simplicidade: “quem pergunta não é tolo” (Yúzhě bù wèn, wèn zhě bù yú).
Em português, já vi esse dito popular adaptado como “melhor perguntar e parecer ignorante do que permanecer ignorante”. Mas quem (essa é a minha primeira pergunta de hoje) em sã consciência, deseja conservar-se na ignorância? Talvez quem não saiba ainda que, para aprender, é necessário saber que não se sabe. Talvez quem não queira ouvir as respostas. Ou talvez seja algo ensinado coercitivamente em sociedade: aprender a não perguntar depois que se cresce.

Mas no fundo sabemos que uma boa resposta depende de uma pergunta precisa.
Se você vai a um médico adepto da medicina tradicional chinesa ou a um homeopata, vai ter que responder a várias perguntas. Para consultar o I-Jing, tem que saber perguntar direito.
Perguntar vem do latim praecunctare, uma formação feita com um prefixo e o verbo cunctare, que significa atrasar, demorar e também duvidar. A própria origem etimológica dessa palavra indica que, para evoluir, é necessário se deter um pouco.
Por isso me chamou a atenção as tantas perguntas que o capítulo 10 do Dao De Jing traz. Muitas remetem a questões já apresentadas nos capítulos anteriores. Mas é diferente quando se pergunta. Por exemplo: você consegue concentrar em si a força do sopro vital? Como eu vou fazer isso? O que é o sopro vital? Temos então aí o começo de um caminho, pois a pergunta impele a uma busca. E como um eterno aprendiz, podemos nos aperfeiçoar indefinidamente para iniciar um outro caminho perguntando: será que posso? Como?
No que diz respeito às práticas corporais chinesas, não se perguntar é não se dar a chance de ter dúvidas quanto aos movimentos aprendidos. E se não há dúvidas, é porque se faz tudo mecanicamente.
Muitos alunos me falam que não treinam em casa porque têm medo de errar, ou seja, porque vão ter dúvidas. As pessoas já querem o certo. Mas o certo depende da vivência de cada um. É uma pena porque, se tivessem sido vivenciadas, essas dúvidas poderiam ser respondidas com a orientação de uma pessoa mais experiente. Poderiam indicar um caminho. Mas é claro que nada disso pode acontecer quando não se experimenta.
Na concepção ética de Confúcio, todo homem é definido como um ser capaz de melhorar, de aperfeiçoar-se indefinidamente.
Segundo o livro História do Pensamento Chinês (editora Vozes), de Anne Cheng, três polos se destacam como essenciais na articulação de seu ensinamento: a qualidade humana, o espírito ritual e o aprender.
Não é por acaso que o aprender é tema da 1ª frase dos Analectos, obra escrita a partir de anotações de discípulos e de discípulos de discípulos de Confúcio: “aprender alguma coisa para poder vivê-la a todo momento, não é isto fonte de grande prazer?”.
Foto: Dudi Maia Rosa

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