quinta-feira, 7 de junho de 2012

O desejo X A culpa

Orgasmo Masculino Fake: o Desejo X a Culpa

Há alguns dias eu recebi um desafio. Sim, teve uma reunião das Bisca que decidiram me interpelar brutalmente (DM no Twitter, com twit de “@Mozzein —>DM”) para que eu falasse de um tema complicado para nós, homens: orgasmo fingido, broxada. A ideia era aproveitar as discussões resultantes do post “Orgasmos: é à brinca ou é à vera?” da Renata Lins e da Silvia Sales e preparar um dedo na nossa ferida… (O post foi tão bom que rendeu a homenagem do Matheus, confira aqui) e fiquem calmos, o dedo vai só na ferida mesmo. Como eu sou muito #FACINHO, aceitei imediatamente, pois, já que eu estou fazendo hora e fazendo fila na vila do meio-dia, não custa nada me coçar, me roçar e me viciar na biscatagi…


A questão principal é HOMEM FINGE ORGASMOS? Como isso poderia acontecer? Há quem diga que homem só broxa e que fingir orgasmos é coisa de mulher… pê-pê-pê, pá-pá-pá, sexismos etc. e tal. Só digo uma coisa pra vocês, dispam-se disso. Homem finge orgasmo sim. Vamos pensar em conjuntos, em inter-relações e em trocas para tentar entender isso… se eu abusar do sociologês, pode bocejar e continuar lendo, mas vamos lá.
Primeiro, sexo e orgasmo (heterossexual e homossexual) é algo que se descobre a dois. Não existe uma receita. Existe prática, conhecimento do outro, cumplicidade. Pode rolar de primeira, delícia que sempre seja assim, mas se não rolar (e, pior, se não está rolando) é importante se conhecer. Colocar o nariz, a língua, o dedo, a boca, usar de todos os artifícios que o nosso corpo permite (e que não o “destrua”) para aproveitá-lo, na plenitude.
Outra coisa é o autoconhecimento. Não adianta querer meter o dedo (y otras cositas más) no outro se não sabemos onde o outro pode colocar na gente. “SE TOQUEM”, sempre digo isso! (aliás, se você não leu, veja lá a situação do Gerônimo!) É preciso que as pessoas pratiquemos isso! Como pretendemos ter algum tipo de prazer sexual, despejar o gozo do nosso desejo (que envolve 2 partes, o psicológico e o somático, a mente e o corpo) se, no mais simples, no nosso corpo, nos recusam a nos TOCAR??? Irrita-me, profundamente, quando escuto certos discursos que, muitas vezes veladamente, condenam o autoconhecimento. Pior, que condenam o reconhecimento do próprio corpo como um elemento de satisfação.
Sim, o nosso corpo é um elemento da nossa satisfação. Ninguém está aí para ser a satisfação do outro (o nome disso é estupro, físico ou cultural, sim, se você finge o orgasmo você pode estar sendo culturalmente estuprado). E o bom é que se alcance a satisfação com o outro, juntos, senão não serve. Pra isso, há uma terceira questão: A CULPA. Sim, essa senhora é o algoz de todo o DESEJO. CULPA, CUL-PA, C-U-L-P-A. Pessoal, familiar, social, ou cultural, a culpa é o motivo de muitos orgasmos fingidos. É a culpa de ser gordo em uma sociedade magra, de ser feio em uma sociedade linda, de ser raquítico em uma sociedade atlética, de transpirar em uma sociedade anti-transpirate. Mas esse é só o primeiro nível de culpa, pois envolve apenas aspectos fisiológicos.
Outro nível é a culpa de gozar. Não só de gozar, mas de se permitir fazer sexo. É a dos jovens de pais repressivos, dos homossexuais de pais homofóbicos, dos religiosos de seitas que pregam a suma reprodução, dos diferentes que sofrem com os dedos apontados pelos iguais. Haja Freud! Se encaixou em alguma delas? Pois é, é aí que começa o fingimento do seu, do meu, do nosso orgasmo, querido leitor-leitora biscate-wanna-be. Sim, isso serve para as meninas.
Isso tudo me traz à cabeça Clarice Lispector no “Uma aprendizagem, ou o Livro dos Prazeres”, que conta o processo de emancipação sexual de Lóri, levado a cabo por Ulisses. Não vou entrar em detalhes sobre a história (cuja leitura, mais que recomendo), me interessa a questão da emancipação que, no caso, ocorreu pelo fato de que alguém que exercia um papel de dominância (Ulisses) resolveu permitir ao outro, que queria e buscava isso, um processo de liberação.
O processo de aprendizagem é algo difícil, doloroso e, em certo ponto, pende entre alienante e emancipatório (a Lóri passa por esses estágios). Já diria meu querido Bourdieu (mais especificamente sobre a escola) que a reprodução de um sistema de dominação (e, sim, educação sexual da culpa é uma das mais fatais em nossas vidas) é principal motor de um “sistema de alienação”. Cabe, assim, a todos nós dominadores ou dominados, ou dominados em conjunto. Trabalhar pela nossa emancipação.
Todo processo de aprendizagem é um processo de dominação. Há sempre o que diz (ou faz) e os que reconhecem que aquilo o que é dito (ou feito) é “bom” (ou “ontologicamente melhor”, pra usar o Bourdieu). Sem querer reduzir a questão sexual apenas à questão simbólica do poder, cabe a quem domina, a quem tem o reconhecimento, decidir sobre exercer seu poder para emancipar, ou praticar a violência e alienar. E cabe ao dominado buscar ver o processo por cima, de forma crítica e entender a intenção do seu dominador. O mundo pode até ser dos sensíveis, mas não é dos ingênuos… infelizmente!
E não se enganem, alienação sexual é também uma escolha e é NOSSA. Pelo simples fato de que somos nós que reconhecemos nesse sistema a suas capacidades de nos dizer o que é certo ou errado sexualmente. Mas não é só isso, felizmente. Não é comum, mas vira e volta surge um desses “dominadores” (no sentido de detentores de poder/conhecimento/reconhecimento e não de repressores) que resolvem se permitir conosco modificar essa situação e, aí, acontece a reversão da dominação. Afinal, o que seria de nós sem os pais responsavelmente permissivos, os professores avant garde, os meios de comunicação libertários, os movimentos pelas liberdades, os psicólogos e psicanalistas.
Onde fica o orgasmo masculino fingido nessa história? Fica principalmente nessa culpa decorrente do nosso processo de alienação sexual. O homem não finge o orgasmo pela ausência de uma regularidade fisiológica, a impotência. Fingir o orgasmo não tem nada a ver com isso, aliás, precisamos estar em riste para poder fingir algo que não vai ocorrer. É justamente nas questões de autoconhecimento e de culpa que reside o nosso momento #FAKE.
É assim: Veio a vontade, começamos a trepar, mas o parceiro gemia esquisito; a foda estava mal dada, entrou atravessado; colocaram a mão no lugar errado, ou não colocaram a mão em lugar nenhum; conversou muito, conversou pouco; a culpa afligiu o desejo… era suor demais, gordura demais, ossos demais, dente torto demais, mau cheiro e sangue demais; as vezes o tesão nem era tão grande e só pegamos para mostrarmos que éramos homenzinhos; pegou menina e gostava de menino; era a voz da mãe, do pai, da avó, do pastor, do padre, do professor, ou da vizinha que não saía da cabeça; ou, ainda, o mais simples e digno, o cansaço era maior.
E aí, assim, metemos, beleza. Rolou um vap-vap-vap. Mas não tava lá essas coisas. Aí, atire a primeira pedra que nunca pensou na mãe morta, no cachorro atropelado, na vizinha velha nua, ou simplesmente broxou (e volto a dizer, não é algo somático, não é impotência, é psicológico, é falta de vontade, de desejo), por ter escutado lá dentro, no inconsciente, a voz de algum repressor. Então, é só dar um urro e não deixar a falta de conteúdo dentro da camisinha à mostra. Pronto, está feito um orgasmo masculino fingido. Acontece, pode até não ser comum, mas não é raro. O que faz com que ele ocorra? São motivos mil, incontáveis, a maioria dependente da ambivalência Desejo-Culpa. Não deixe acontecer mais com você. LIVRE-SE DA CULPA!
Só pra lembrar, vale ver o vídeo em que Sean Maguire (personagem do Robim Willian) lembra a Will Hunting (personagem de Matt Damon) que “NÃO É SUA CULPA”, no filme Gênio Indomável. GOZE!

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