terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O MONÓLOGO DE HAMLET

Ser ou não ser, eis a questão!

O que é mais nobre para o espírito?

Sofrer na alma os dardos e as setas de um ultrajante fado
Ou, resistindo, pegar em armas contra um mar de desgraças,
para por-lhes um fim?

Morrer… dormir… nada mais.

E, com o sono, dizem, terminamos o pesar do coração
e os mil naturais conflitos que constituem a herança da carne!

Que fim poderia ser mais devotamente desejado?

Morrer… dormir… Dormir!… Sonhar talvez !?!

Sim, eis aí a dificuldade!

Porque é forçoso que nos detenhamos a considerar
que sonhos possam sobrevir, durante o sono da morte,
quando tenhamos nos libertado do redemoinho da vida.

Aí está a reflexão que torna uma calamidade a vida assim tão longa!

Porque, senão, quem suportaria os ultrajes e os desdéns do tempo,
a injúria do opressor, a afronta do soberbo, a angústia do amor desprezado,
a morosidade da lei, as insolências do poder
e as humilhações que o paciente mérito recebe do homem indigno,
se ele próprio poderia encontrar quietude pela ponta de um punhal?

Quem preferiria suportar tão duras cargas,
gemendo e suando sob o peso de uma vida fatigante,
se não fosse o temor de algo depois da morte,
região misteriosa de onde nenhum viajante jamais voltou,
confundindo nossa vontade
e impelindo-nos a suportar os males que nos afligirem,
ao invés de nos atirarmos a outros que não conhecemos?

E é assim que a consciência nos transforma em covardes;

E é assim que o primitivo verdor de nossas resoluções
se estiola na pálida sombra do pensamento;

E é assim que os empreendimentos de maior alento e importância,
com tais reflexões, desviam seu curso
e deixam de ter o nome de AÇÃO.

WILLIAM SHAKESPEARE
(26/04/1564 – 23/04/1616)

Nenhum comentário:

Postar um comentário