quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A razão à prova das grandes crises históricas



Domenico Losurdo [*]

Domenico LosurdoA leitura psicopatologisante das grandes crises históricas permite por um lado liquidar como uma expressão de loucura o gigantesco processo de emancipação que vai da Revolução Francesa (das Luzes mesmo) à Revolução de Outubro; por outro lado, ela atribui o Terceiro Reich a uma personalidade doente individual (Hitler), absolvendo indirectamente o sistema político-social e a tradição ideológica que o produziram. A crítica da leitura psisopatologisante das grandes crises históricas é um hoje um dever essencial da crítica da ideologia e da luta pela razão.

Como explicar a grande crise histórica que principia com a Revolução Francesa e que, um quarto de século mais tarde, é concluída (provisoriamente) com o retorno dos Bourbons? Friedrich Schlegel e a cultura a Restauração não cessaram de denunciar a “doença política” e o “flagelo contagioso dos povos” que estrondeiam a partir de 1789; mas é o próprio Metternich que alerta contra a “peste” ou o “cancro” que devasta os espíritos [1] . Para sermos mais exactos – indo mais longe do que este outro ideólogo da Restauração que é Baader – estamos na presença de uma “loucura de possessão satânica”; ao derrube do Antigo Regime sucedeu não a democracia mais sim a “demonocracia” [2] , ou seja, o poder de Satã.
Mais tarde, após a vaga da revolução de 1848 e sobretudo da revolta operária, Tocqueville vai desenvolver a abordagem psicopatologisante: o que vai explicar a “doença da Revolução Francesa” é a propagação de um “vírus de uma espécie nova e desconhecida” [3] . Nos seus Souvenirs, referindo-se ao momento em que começa a subir a agitação que desembocará nas jornadas de Junho, o liberal francês faz dizer a “um médico de mérito que dirigia então um dos principais hospitais de loucos de Paris”: “Que infelicidade e como é estranho pensar que são loucos, verdadeiros loucos, que provocaram isto! A todos operei ou tratei. Blanqui é um louco, Barbès é um louco, Sobrier é um louco, Huber sobretudo é um louco, todos loucos, senhor, que deveriam estar no meu [hospital de] Salpêtrière e não aqui”. Tocqueville acrescenta a seguir: “Sempre pensei que nas revoluções e sobretudo nas revoluções democráticas, os loucos, não aqueles aos quais se dá este nome por cortesia, mas os verdadeiros, desempenharam um papel político muito considerável” [4] .
A referência a forças de alguma forma infernais não faltará daí em diante: nas jornadas de Junho, Tocqueville ouve soar “uma música diabólica” nos bairros que se preparavam para resistir e que convocam os habitantes à luta tocando a “generala”. Os habitantes ouvem e preparam-se com um “ar sinistro”, perdendo seus traços humanos. Eis a agitar-se de modo insensato uma “velha” que parece uma feiticeira: “A expressão odiosa e terrível do seu rosto fez-me horror, tanto o furor das paixões demagógicas e a raiva das guerras civis estavam nele bem representados”.
Na véspera da Comuna de Paris, a abordagem psicopatológica celebra o seu triunfo com Taine:
“Se há para os corpos doenças epidémicas e contagiosas, há também para os espíritos e esta é então a doença revolucionária. Ela se encontra em simultâneo sobre todos os pontos do território e cada ponto infectado contribui para a infecção dos outros […] Em todas as partes as mesma febre, o mesmo delírio e as mesmas convulsões indicando a presença do mesmo vírus, e este vírus é o dogma jacobina”. [5]
Não só a Comuna como todo o ciclo revolucionário francês é posto na conta do “vírus” e da “alteração do equilíbrio normal das faculdades” [6] . Lancemos um olhar a tal ou tal actor da revolução: “O médico reconheceria de imediato um destes loucos lúcidos que não encerra, mas que são os mais perigosos” (VII, 205). Com efeito, Marat comporta-se como “seus companheiros [do hospital] de Bicêtre” (VII, 208). Como se pode ver, passámos do Salpetrière de Tocqueville para o Bicêtre, mas a explicação das crises revolucionárias continua a ser procurada nos hospícios. Aos olhos de Taine também a loucura revolucionária tem algo de diabólico. Se Voltaire é um “demónio encarnado”, Saint-Just e o protagonista de uma espécie de rito satânico: “Esmagar e subjugar torna-se uma voluptuosidade intensa, saboreada pelo orgulho íntimo, um fumo de holocausto que o déspota queima no seu próprio altar; neste sacrifício quotidiano, ele é em simultâneo o ídolo e o padre, e oferece-se vítimas para ter consciência da sua divindade” [7] .
O ciclo que principia na Rússia em 1905 é comparável ao ciclo revolucionário francês. A cultura dominante vai então reactualizar o “diagnóstico” já efectuado. O “vírus de uma espécie nova e desconhecida” migra da França para a Rússia: é assim, num retorno explícito a Tocqueville, que argumentam François Furet e o sovietólogo estadunidense Richard Pires [8] .
A leitura em termos psicopatológicos das grandes crises históricas está de tal modo difundida actualmente que até se pode observá-las nas categorias centrais do discurso político. Em 1964, Adorno vê no “totalitarismo psicológico” o fundamento do totalitarismo propriamente dito: há indivíduos que “não têm à sua disposição senão um eu fraco e em consequência têm necessidade, como substitut, da identificação com um grande colectivo e da sua cobertura”. Não só desvanece-se assim a situação objectiva, a geopolítica e a história, mas os próprios ideólogos não desempenham qualquer papel: “Os caracteres submetidos à autoridade são avaliados de modo totalmente erróneo ainda que sejam construídos a partir de uma ideologia político-económica determinada”[9] .
A deriva psicologista acaba por emergir também em Arendt. Com efeito, é recorrente nas Origens do totalitarismo a denúncia do “desprezo totalitário pela realidade e pelos próprios factos”, pela “loucura” que a “sociedade totalitária” demonstra. Esta não é a busca com métodos brutais e sem nenhum escrúpulo moral de objectivos em todo caso logicamente compreensíveis. Não, no totalitarismo tratamos dos “paranóicos” (10): “A agressividade do totalitarismo não nasce do apetite de poder e o seu expansionismo ardente não visa a expansão para si mesmo, não mais do que o lucro; suas razões são unicamente ideológicas: trata-se de tornar o mundo mais coerente, de provar o bom fundamento do seu mau entendimento” (p. 810). Por outras palavras, o totalitarismo é a loucura que quer a loucura.
Eis-nos chegados de alguma forma à cultura da Restauração, como se verifica a partir de um pormenor ulterior. Quanto aos “regimes totalitários” (não só o regime hitleriano como também o staliniano), Arendt faz intervir a categoria de “mal absoluto”, que já não podem mais explicar “as vis motivações do interesse pessoal, da culpabilidade, da cobiça, do ressentimento, do apetite de potência e da covardia” (p. 811) e que portanto não pode ser explicado racionalmente. O Satã de que fala a cultura da Restauração é aqui tornado o mysterium iniquitatis.
Mas porque a abordagem psicologisante deve ser considerada como errónea e mistificadora? Vejamos o que se passa nos Estados Unidos, nas vésperas da Guerra de Secessão, ou seja, deste trágico conflito que acaba por desembocar numa revolução abolicionista. Nos campeões do Sul escravocrata, comparam-se os abolicionistas aos jacobinos, eles próprios afectados pela loucura. Mas ocorre aqui uma novidade. Faz-se também um diagnóstico psicopatológico para os escravos. O número dos escravos fugitivos aumenta e os ideólogos da escravatura espantam-se: como é possível que pessoas “normais” se subtraiam a uma sociedade tão bem ordenada? Eis-nos claramente na presença de um espírito perturbado. Mas de que se trata? Em 1851, Samuel Cartwright, eminente cirurgião e psicólogo da Luisiânia, partindo do facto de que em grego clássico drapetes é o escravo fugitivo, conclui triunfalmente que a perturbação psíquica que leva os escravos negros à fuga é precisamente a drapetomania [11] . Outros ideólogos constatam que os escravos não obedecem mais às ordens dos mestres com a mesma celeridade anterior. O diagnóstico psicopatologisante intervém de novo: a doença em questão é agora a “disestesia”, ou seja, a incapacidade dos escravos para compreender e reagir com celeridade às ordens do mestre [12] .
No século XIX vemos desenvolver-se uma outra revolução, a revolução feminista. E novamente caímos na denúncia da loucura e da degenerescência que estaria na base desta novidade incrível. É um grande filósofo, Friedrich Nietzche, que fala das protagonistas desta revolução como mulheres falhadas que desconhecem a sua natureza de mulheres e são mesmo incapazes de engendrar: “Emancipação da mulher – eis o que é o ódio instintivo da mulher falhada, ou seja, incapaz de procriar, contra a mulher de bom comportamento”. A polémica contra o movimento feminista é tão rude que leva o filósofo a declarações de um filistinismo desarmante. As “emancipadas” seriam “mulheres fracassadas” ou então “aquelas que não o estofo para terem filhos” [13] . Pode-se tirar uma conclusão: historicamente, não se encontra desafio à opressão que não tenha sido taxado de loucura, de deformação da saúde e da normalidade.
De resto, o diagnóstico psicopatologisante caracteriza-se pelo seu lado arbitrário. Pode-se constatá-lo até nos grandes autores. Em 1950, ao publicar seus estudos sobre a “personalidade autoritária”, Adorno sublinha a “correlação entre anti-semitismo e anti-comunismo” e acrescenta a seguir: “Durante os últimos anos todo o mecanismo de propaganda na América foi consagrado a desenvolver o anti-comunismo no sentido de um “terror” irracional” [14] . Naquele momento, aqueles que foram afectados por perturbações psíquicas eram os anti-comunistas; em 1964, em contrapartida, Adorno inserirá exactamente os comunistas, com os fascistas, entre as personalidades intrinsecamente autoritárias e inclinadas ao totalitarismo!
O diagnóstico psicopatologisante toma habitualmente como alvo os campeões da revolução, nunca os da guerra
Também vale a pena notar que o diagnóstico psicopatológico toma habitualmente como alvo os campeões da revolução, nunca os da guerra. Os loucos são Robespierre e os jacobinos, mas não os girondinos feitores da guerra, cujas consequências devastadora para a liberdade civil e política são denunciadas de modo antecipado e com uma grande lucidez exactamente por Robespierre. Os loucos são os bolcheviques que invocam a Revolução para por fim à carnificina da Primeira Guerra Mundial, não aqueles que, prolongando a participação da Rússia nesta carnificina, não hesitam em sacrificar milhões de pessoas e em provocar no país uma crise política, económica e social de proporções espantosas. Mais ainda, a Primeira Guerra Mundial é saudada não só na Rússia mas em todo o Ocidente como um momento de regeneração espiritual exaltante e os maiores intelectuais da época empenham-se nesta obra de celebração e de transfiguração.
Finalmente. Vimos Tocqueville identificar na obra de um “vírus de uma espécie nova e desconhecida” a causa do interminável ciclo revolucionário francês. Mas porque o autor desta explicação não poderia ser submetido, também ele, a um diagnóstico psicopatológico? Para demonstrar a loucura da “raça de revolucionários que parece nova no mundo” e que está a actuar em França, ele observa que esta “não só pratica a violência, o desprezo do direitos individuais e a opressão das minorias, mas, o que é novo, professa que assim deve ser” (II, 2, p. 337). E vejamos agora como o liberal francês celebra a primeira guerra do ópio:
“Trata-se de um grande acontecimento, sobretudo se se sonha que não é senão a sequência, o último termo de uma multidão de acontecimentos da mesma natureza que, todos eles, empurram gradualmente a raça europeia para fora da sua casa e submetem sucessivamente ao seu império e à sua influência todas as outras raças […]; é a submissão de quatro partes do mundo pela quinta. Não difamemos nosso século e nós próprios; os homens são pequenos mas os acontecimentos são grandes”.
Ou então vejamos qual comportamento Tocqueville sugere ao exército francês empenhado na conquista da Argélia:
“Destruir tudo o que se pareça a uma agregação permanente de população, ou por outras palavras, a uma cidade. Creio da mais alta importância não deixar subsistir ou elevar-se nenhuma cidade nos domínios de Abd-el-Kader” (o líder da resistência).” [15]
Nestas duas declarações ressoa esta celebração da violência e da lei do mais forte de que se censura a “raça dos revolucionários” em acção em França. Por outras palavras, é de modo não só arbitrário mas também dogmático que procedem os fazedores da abordagem psicopatológica: eles não aplicam a si mesmos os critérios que fazem valer para os outros.
Poder-se-ia objectar com Furet que o carácter patológico da violência jacobina (e bolchevique) reside no facto de que ela devora os seus próprios filhos. Se não fosse a dialéctica de Saturno que está bem presente na Reforma protestante na primeira revolução inglesa e que se manifesta também, com modalidades particulares, na revolução americana. Por ocasião da Guerra de Secessão, os dois campos reclamam-se da luta pela independência conduzida em conjunto contra a Coroa inglesa. Os abolicionistas referem-se ao princípio proclamado pela Declaração de independência segundo a qual “todos os homens foram criados iguais” e ao incipit solene da Constituição de Filadelfia na qual o “povo dos Estados Unidos” declara querer ulteriormente “aperfeiçoar a União”. A propaganda da Confederação reivindica a herança da luta dos patriotas contra um poder central opressivo, sublinha a centralidade do tema dos direitos de cada estado singular no processo de fundação e na tradição jurídica do país, e observa que Washington, Jefferson e Monroe eram todos proprietários de escravos. Os dois campos opostos declaram avançar no rastro dos Pais Fundadores, mas isso não evita o choque e o torna mesmo mais rude. Não há dúvida: também neste caso, Saturno devora os seus filhos.
É preciso notar igualmente que os colonos americanos protagonistas da guerra de independência contra o governo de Londres são definidos pelos seus contemporâneos ingleses, quer num julgamento positivo ou negativo, como “os dissidentes do desacordo”. E se Burke denuncia a “doença” francesa desde a primeira da revolução [16] , Mallet du Pan põe em causa nesta revolução a “inoculação americana” [17] . Como se vê, a remessa à dialéctica de Saturno e à psicopatologia para explicar as revoluções não esperou o jacobinismo para vir à luz!
Mas coloquemos agora uma pergunta: qual é o ponto de partida da loucura ideológica que teria assolado primeiro o ciclo revolucionário francês e depois o ciclo revolucionário russo? Furet, tal como Pipes, partem da França das Luzes e das sociedades de pensamento. E é do mesmo modo que argumenta Taine, que vimos criticar Voltaire como demónio incarnado e que vê a França revolucionária “intoxicada pela má aguardente do Contrato Social” de Rousseau [18] . Pode-se agora considerar como terminada a investigação para trás das origens do maldito vírus revolucionário? Nada disso! Bem antes da revolução que em França liquida o Antigo Regime, verifica-se na Alemanha a Guerra dos Camponeses que, conduzidos por Müntzer, insurgem-se contra os senhores feudais e querem abolir a servidão de gleba. Os protagonistas desta revolução são estigmatizados por Lutero como “profetas loucos” (tolle Propheten) que excitam a “populaça louca” (tolle Pöbel), como “visionários” (Schwärmerer, Geister, Schwarmgeister), loucos que perderam totalmente o sentido da realidade [19] . Mas esta campanha contra o ex-discípulo que se tornou louco não impede Lutero de ser por sua vez classificado por Nietzche entre os “espíritos doentes”, a saber, entre os “epilépticos das ideias” (com Savonarole, Luther, Rousseau, Robespierre et Saint-Simon) ( O Anticristo, 54).
Sim, segundo Nietzche, para encontrar as primeiras origens da doença revolucionária convém remontar bem mais para trás do que o fazem os críticos habituais da revolução: a loucura que desejaria o advento de um mundo perfeito e igualitário e que condena a riqueza e o poder enquanto tais começou a manifestar-se já com o cristianismo e mesmo, ainda antes, com os profetas judeus. Convencido da longa duração do ciclo revolucionário que assola o Ocidente, Nietzche convida a proceder finalmente ao acerto de contas com “estes milhares de anos de um mundo de choças” e com as “doenças mentais” que o assolam a partir do “cristianismo” (O Anticristo, 38). Poder-se-ia ler esta conclusão como a involuntária reductio ad absurdumda interpretação psicopatologisante do conflito político e, em particular, das grandes crises históricas. Mas não esqueçamos que Nietzche declara ter “passado pela escola de Tocqueville e de Taine” (B, III, 5, p.28), e que tem com este último relações epistolares marcadas por uma estima recíproca [20] .
Nos nossos dias, igualmente, na esteira do filósofo alemão, um ilustre historiador das religiões (Mircea Eliade) e um eminente filósofo (Karl Löwith) explicam a loucura sanguinária do século XX partindo de longe, de muito longe: tudo teria começado em tempos bastante recuados com a recusa do mito do retorno eterno e com o advento da visão unilinear do tempo e da fé no progresso que a acompanha: tudo teria começado com, uma vez mais, a afirmação da cultura judia e cristã. A tendência para liquidar as grandes crises históricas (e em última análise a história universal) enquanto expressões de loucura caracteriza a cultura actual de modo talvez ainda mais forte do que a cultura da Restauração.
Mas como explicar o facto de que as explosões de loucura manifestam-se mais frequentemente e numa escala mais vasta em certos países do que em outros? Conhece-se em Tocqueville a tendência para celebrar um sentido moral e prático superior e um mais forte apego à liberdade que caracterizariam os cidadãos estado-unidenses, em oposição aos franceses. Quer dizer que a leitura psicopatológica do conflito tende a desembocar numa leitura de cariz etnológico (e de tendência racial). É uma tendência que se manifesta também fortemente na historiografia e na cultura contemporânea. Segundo Norman Cohn (2000, p. 21), a Inglaterra “faz-se notar por uma ausência quase total de tendências chiliásticas” e de ” chiliaísmo revolucionário”, que em contrapartida assolam a França e a Alemanha [21] . Mais radical na deriva etnológica (e, em última análise, racial) é Robert Conquest (2001, p.15), que vê na França e na Rússia (e na Alemanha) os lugares das “aberrações mentais”, das quais em contrapartida estão imunes as revoluções inglesa (não se fala senão da Revolução Gloriosa de 1688) e americana. Além disso, a civilização autêntica encontra sua expressão mais acabada na “comunidade de língua inglesa” e o primado desta comunidade tem seu fundamento étnico preciso, constituído pelos “angloceltas” [22] . Então coloca-se aqui uma questão: por o culto dos “angloceltas” deveria ser mais aceitável do que o culto dos “arianos”, particularmente caro aos nazis?
Pois. Para se dar conta do absurdo da remessa à psicopatologia basta reflectir no facto de que o carácter catastrófico da crise revolucionária na Rússia foi previsto com décadas de antecipação por autores muito diferentes entre si. Em 1811, na São Petersburgo ainda abalada pela revolta camponesa de Pugatchev, Maistre vê perfilar-se uma revolução (desta vez apoiada por “Pougatcheve de Universidade”, isto é, por intelectuais de origem popular) de uma amplitude e de uma radicalidade de fazer empalidecer a Revolução Francesa. Em 1859 previne: se a nobreza continuar a se opor a uma emancipação real dos camponeses, emergirá um cataclismo social “sem precedentes na história”. Em 1905, mesmo o primeiro-ministro russo Serge Witte exprime-se em termos semelhantes!
Podem-se fazer considerações análogas para a crise que na Alemanha acabou no advento de Hitler ao poder. Pouco tempo após a assinatura do Tratado de Versalhes, o marechal Ferdinand Foch observa: “isto não é a paz, isto não é senão um armistício para vinte anos”. O imperialismo alemão não ia tardar em tentar a sua desforra; e ele vai tanto mais facilmente obter um consenso de massa na medida em que os vencedores da Primeira Guerra Mundial se mostram vindicativos e míopes. Neste mesmo período o grande economista John Maynard Keynes, que fez parte da delegação inglesa em Versalhes, põe em guarda contra as consequências de uma “paz cartaginesa”:
“A vingança, ouso prever, não tardará. Nada poderá então retardar por muito tempo esta guerra civil final entre as forças da reacção e as convulsões revolucionárias desesperadas; face a que os horrores da última guerra alemã desaparecerão no nada e destruirão, qualquer que seja o vencedor, a civilização e o progresso da nossa geração”. [23]
Portanto: “Que o céu nos proteja a todos!” Uma prova de força ia-se perfilando para a hegemonia ainda mais brutal e bárbara que do que aquela que se havia desencadeado no decorrer do primeiro conflito mundial.
O nazismo caracteriza-se também por sua pretensão a retomar a tradição colonial para realizá-la também, nas suas formas mais bárbaras, na Europa oriental. Pois bem, a partir já do século XIX a cultura europeia mais avançada colocou-se uma questão angustiante: o que teria acontecido se os métodos de governo e de guerra em acção nas colónias tivessem acabado por se impor também nas metrópoles? O próprio genocídio dos judeus não acontece de modo de algum de modo improvisado. Basta-nos dizer que na Rússia devastada pela guerra civil, os judeus, estigmatizados como fantoches do bolchevismo, tornam-se as vítimas de massacres desencadeados pelas tropas brancas apoiadas pela Entente: isto é o prelúdio – observam eminentes historiadores – do que será a seguir a “solução final” [24] .
Concluamos. A leitura psicopatologisante das grandes crises históricas permite por um lado liquidar como uma expressão de loucura o gigantesco processo de emancipação que vai da Revolução Francesa (das Luzes mesmo) à Revolução de Outubro; por outro lado, ela atribui o Terceiro Reich a uma personalidade doente individual (Hitler), absolvendo indirectamente o sistema político-social e a tradição ideológica que o produziram. A crítica da leitura psisopatologisante (mesmo demonológica) das grandes crises históricas é um hoje um dever essencial da crítica da ideologia e da luta pela razão.
[1] cf. Heinrich von Treitschke, Deutsche Geschichte im neunzehnten Jahrhundert, Leipzig, 1879-1894, vol. III, p. 153.
[2] Benedikt F. X. von Baader, Sämtliche Werke, présenté par F. Hoffmann et alt. (Leipzig 1851-1860), réédition anastatique, Scientia, Aalen, vol. 6, pp. et 26.
[3] Alexis de Tocqueville, Œuvres complètes, présentées par J. P. Mayer, Gallimard, Paris, 1951 et suivantes, vol. XIII, 2, pp. 337-38.
[4] Pour les Souvenirs nous renvoyons le lecteur à l’anthologie de Tocqueville de F. Mélonio et J. C. Lamberti, Laffont, Paris, 1986, pp. 798 et 812.
[5] Hippolyte Taine, Les origines de la France contemporaine (1876-94), Hachette, Paris, 1899, vol. 6, p. 64.
[6] Ibidem., vol. 5, pp. 21 et suivantes.
[7] Ibidem.,vol. 7, pp. 205, 208 et 347-8 et vol. 1, p. 295.
[8] Domenico Losurdo, Le révisionnisme en histoire. Problèmes et mythes, traduit de l’italien par Jean-Michel Goux, Albin Michel, Paris, 2006, chap. 1,1.
[9] Theodor W. Adorno, Eingriffe. Neun kritische Modelle, Suhrkamp, Frankfurt a. M., 1964, pp. 132-3.
[10] Hannah Arendt, The Origins of Totalitarianism (1951) Harcourt, Brace & World, New York, 3° ed., 1966, pp. 457-9.
[11] Cf. Emily Eakin, Is Racism Abnormal ? A Psychiatrist Sees It as a Mental Disorder, in International Herald Tribune du 17 janvier 2000, p. 3.
[12] Wyn C. Wade, The Fiery Cross. The Ku Klux Klan in America, Oxford University Press, New York-Oxford, 1997, p. 11.
[13] Ecce Homo, « Pourquoi j’écris de si bons livres ».
[14] Cf. Theodor W. Adorno, Studies in the Authoritarian Personality, in Id., Gesammelte Schriften, Suhrkamp, Frankfurt a. M., vol. 9, 1, p. 430.
[15] Alexis de Tocqueville, Œuvres complètes, cit., vol. 2, 2, p. 337 ; vol. 6, 1, p. 58 et vol. 3, 1, p. 229.
[16] Domenico Losurdo, Controstoria del liberalismo, Laterza, Roma-Bari, 2005, chap. VIII, § 7.
[17] Alphonse Aulard, Histoire politique de la Révolution française (1926), Scientia, Aalen (reproduction anastatique), 1977, p. 19, note 1.
[18] Cf. Hippolyte Taine, Les origines de la France contemporaine, cit., vol. 4, p. 262.
[19] Martin Luther, Ermahnung zum Frieden auf die zwölf Artikel der Bauernschaft in Schwaben (1525), in Die Werke, présenté par Kurta Aland, Klotz-Vandenhoeck & Ruprecht, Stuttgart-Göttingen, 1967, vol. 7, pp. 165, 168, 174 et 180 ; Martin Luther, Daß diese Worte : Das ist mein Leib etc. noch feststehen. Wider die Schwarmgeister (1527), in Werke, présenté par Diaconus Dr. Buchwald et alt., Schwetschke, Braunschweig, 1890, vol. 4, pp. 342 et suivantes.
[20] Domenico Losurdo, Nietzsche, il ribelle aristocratico. Biografia intellettuale e bilancio critico, Bollati Boringhieri, Torino, 2002, cap. 28, § 2 .
[21] Cf. N. Cohn, The Pursuit of the Millennium (1957), tr. it., de Amerigo Guadagnin, I fanatici dell’Apocalisse, Comunità, Torino, 2000, p. 21.
[22] R. Conquest, Reflections on a Ravaged Century (1999), tr. it., de Luca Vanni, Il secolo delle idee assassine, Mondadori, Milano, 2001, pp. 15, 275 et suivantes et 307.
[23] John M. Keynes, The economic consequences of the peace (1920), Penguin Books, London, 1988, pp. 56 et 267-68.
[24] Cf. Domenico Losurdo, Staline. Histoire et critique d’une légende noire, traduit de l’italien par Marie-Ange Patrizio, Aden, Bruxelles, 2011, chap. 3, 1 et 5, 6.

[*] Professor de história da filosofia da Universidade de Urbino (Itália). Dirige desde 1988 a Internationale Gesellschaft Hegel-Marx für Dialektisches Denken e é membro fundador da Associazione Marx XXIesimo secolo.
Extracto de Psicopatologia e demonologia: A leitura das grandes crises históricas da Restauração aos nossos dias, ensaio publicado na revistaBelfagor. Rassegna di varia umanità, dirigida por Carlo Ferdinando Russo, Editions Leo S. Olschki, Florence, Maço 2012, p. 151-172.
Como se sabe, a Belfagor encerrou. Com esta homenagem agradeço ao meu amigo Carlo Ferdinando Russo e a toda redacção pela hospitalidade que me foi seguidamente oferecida. Domenico Losurdo.
O original encontra-se em http://domenicolosurdo.blogspot.fr/ e a versão em francês em http://www.voltairenet.org/article177087.html

Jornalismo em ciência: mais do que uma necessidade, um dever

Bruno Carvalho

Para que a ciência e o jornalismo assumam de vez os seus papéis de destaque no progresso da sociedade humana será necessário eliminar as razões que as impedem de vestirem tal protagonismo. O imperialismo cultural a que se referiam Bourdieu e Wacquant impele a reprodução do pensamento dominante geração após geração. Só abalando as estruturas e os alicerces que fundam a nossa sociedade num sistema que promove a desigualdade se conseguirão devolver aos princípios éticos a consistência prática que necessitam.


A história da humanidade tem sido, desde o seu início, pautada por várias formas de conhecimento. Os servos da gleba que lavravam os feudos dos Senhores baseavam-se no conhecimento adquirido através do trato comum e espontâneo, na relação directa que estabeleciam com as coisas e os seres humanos. Essa forma de conhecimento, o senso comum, transmite-se, como na altura, de geração para geração sendo assimilada e transformada enriquecendo a compreensão da realidade. É, portanto, um conhecimento conquistado de forma empírica baseando-se na experiência quotidiana sem se deixar limitar pelo rigor ou pela objectividade, sem procurar o método ou a sistematização. Outro aspecto importante a relevar é o da subjectividade que radica na permissão da expressão de sentimentos, opiniões e valores pessoais quando observamos o mundo que nos rodeia; esta será, de resto, uma problemática a aprofundar-se mais à frente na relação entre jornalismo e ciência. De qualquer forma, e porque muitas vezes recai uma conotação negativa sobre o senso comum, este apresenta vantagens na resolução e superação de problemas no nosso dia-a-dia. Outro tipo de conhecimento que predominou em períodos da história relaciona-se com a teologia. Fortemente ligado às concepções religiosas da realidade, o conhecimento teológico teve muita influência durante a Idade Média e se hoje a ciência assume um papel preponderante a teologia, ainda assim, não perdeu toda a sua força.
De todo o modo há que compreender o contexto em que a ciência assumiu este papel de vanguarda. Perante o destapar de uma série de realidades, desconhecidas até então, através de uma panóplia de metodologias e instrumentos científicos que comprovavam as hipóteses teorizadas, a humanidade começava a olhar com confiança para esta forma de conhecimento. Segundo João Caraça, “a confiança nesta maneira de proceder (…) permitindo a «verificação universal» dos novos conhecimentos, levaram à aceitação da ciência moderna como o dispositivo cognitivo inerente à cultura da humanidade.”, no entanto, destaca que “a ciência e o movimento científico não são o impulso motor essencial, a energia fundadora da modernidade: a ciência surge, claro, no seu âmbito, mas robustece-se na medida em que consegue animar e reforçar o espírito da época, na medida em que se alinha com (e força a alinhar com ela) grandes correntes noutras áreas do saber” e “a actividade científica só surge ligada de uma forma forte e motivadora à vida económica e social em finais do século XIX”[1] desempenhando a partir daí um papel preponderante.
É portanto quando o conhecimento científico se interliga com a técnica impulsionando o progresso da produção material que a ciência se afirma como um dos eixos centrais da modernidade. Desde os alvores da sociedade humana que a produção material, como “actividade produtiva em que os homens transformam os objectos da natureza e os adaptam às suas necessidades”[2], se representa como “base da vida e do desenvolvimento da sociedade”. A. Spirkine e O. Yakhot afirmam que “a introdução da ciência na produção é uma questão extremamente complexa. (…) Por exemplo, na antiguidade sabia-se que se podia utilizar o vapor, mas passaram-se cerca de dois mil anos antes de o utilizar para pôr maquinismos em movimento.”[3] Marx e Engels, nesse sentido, relevam o papel da técnica no desenvolvimento da ciência e vice-versa. “Só depois de termos descoberto a sua utilização técnica é que ficámos a saber qualquer coisa de racional sobre electricidade.[4]”
No entanto, o sucessivo aumento da actividade científica levou à criação de mecanismos de controlo da qualidade de tal produção de conhecimento. A existência de um «monopólio» da capacidade de julgar o que é «boa» ou «má» ciência”[5] está patente nas revistas cientificas e reflecte o sistema de «apreciação de pares» de que fala João Caraça e que, segundo ele, “é o único que pode certificar a qualidade da actividade cientifica apreendida.”
Por arrastamento, no campo da ciência criaram-se padrões, rotinas, formas de comportamento e linguagens próprias que caracterizam num todo a comunidade científica. A circulação e a partilha de conhecimento foram aparecendo com uma linguagem cada vez mais própria de cada área disciplinar. A comunicação entre membros de uma dada disciplina só é apreendida de forma eficaz se cada membro estiver a participar de forma activa e só “é eficiente apenas entre pares da mesma disciplina”. Ou seja, se existe em todas estas características um fosso que divide os cientistas de vários campos do conhecimento que tamanho não terá abismo que separa a comunidade científica do resto da população?
Jornalismo em ciência: mais que uma necessidade, um dever
É na resolução do problema que resulta desta pergunta que surge a primeira preocupação do jornalismo relativamente à ciência. Tendo em conta a importância que assume na sociedade, a comunicação social tem como dever a divulgação da ciência. Cláudia Jurberg, na sua Tese “Ciência ao alcance de todos: experiências de educação e distância em jornalismo científico” destaca o facto de ser importante “que os jornalistas e os leitores compreendam o conteúdo de cada matéria” e ressalta “a importância de que jornalistas especializados nas diversas editorias traduzam a especificidade de cada área abordada para leitores nem sempre familiarizados com o assunto.”[6]
Marcelo Leite, editor de ciência da Folha de São Paulo, jornal brasileiro, revela que existem barreiras a serem derrubadas pelos profissionais da informação e escala-as em três patamares:
1. A ignorância de base – onde há que fazer um esforço para esclarecer os conceitos básicos
2. A ignorância sobre o que acontece – é tarefa do jornalismo acompanhar os ramos mais significativos da Ciência e Tecnologia, as novas descobertas e teorias, hierarquizando e noticiando com destaque somente o que de facto for importante
3. A ignorância das implicações – investigar-se e expor-se as consequências éticas, jurídicas, sociais e políticas das biotecnologias: do monopólio da produção de sementes à patente de seres vivos até à discriminação genética no emprego e por seguradoras
Um outro autor, Erbolato, destaca a relação da ciência e jornalismo no plano intelectual e no plano material. “Sem ciência não há jornalismo, do ponto de vista intelectual. E muito menos haveria a imprensa, no nível em que se encontra. Afinal não foram as ciências que permitiram fabricar impressoras, lançar satélites ao espaço e adoptar o sistema offset?”[7]
Embora ambas as realidades pareçam tão próximas numa relação quase simbiótica, a verdade é que a história desta relação tem sido pautada por muitas clivagens e atritos. Não raras vezes os cientistas evitam falar com os jornalistas e em muitas outras reclamam distorções nas publicações deste ou daquele acontecimento científico. Carlos Chaparro, a este propósito, classifica o conflito como “estúpido” “pela simples razão de que conhecimento não socializado é conhecimento perdido” e identifica alguns dos problemas. “O cientista, no seu papel de fonte, adopta normalmente procedimentos de controlo ou de filtragem da informação, para resguardar-se de entendimentos equivocados, de concessões ao sensacionalismo especulativo ou, até, de interpretações tendenciosas. Por causa das razões da ciência, ou das razões da carreira, o cientista procura minimizar os riscos de uma exposição pública realizada por modos e meios que não domina nem controla” já o jornalista “está prioritariamente interessado em apropriar-se de informações, revelações, análises e opiniões, para usá-las em função do interesse do seu leitor, de seu jornal ou do próprio interesse profissional.”[8] Em suma, Chaparro considera que as grandes diferenças se manifestam nos objectivos e no discurso.
Eduardo Meditsch, numa conferência, considerava que muitos acham o jornalismo como não produzindo conhecimento válido e como contributo para a “degradação do saber”. Estas afirmações foram produzidas no seio de uma análise sobre se o jornalismo é ou não uma forma de conhecimento. “Esta forma de conhecimento tanto pode servir para reproduzir outros saberes quanto para degradá-los, e é provável que muitas vezes faça essas duas coisas simultaneamente.”
Ainda assim é evidente a necessidade e o dever do jornalismo de se assumir como transmissor do conhecimento científico à generalidade da população. Não deve é, de forma alguma, agir passivamente em relação ao conhecimento apreendido. Deve ser um agente activo e crítico na contextualização desse mesmo produto intelectual.
Jornalismo: interesse público ou interesse privado?
Da mesma forma que a ciência é facilmente assumida como de interesse público, o interesse público do jornalismo é de uma forma geral aceite pela população, pelo poder económico e pelo poder político. Nos últimos anos, o desenvolvimento dos meios de comunicação impulsionou alterações significativas na difusão de informação. Este processo foi um dos sustentáculos do fenómeno comummente conhecido por globalização. Os media representam, assim, um dos eixos da sociedade actual.
Para além da comunicação e divulgação de informação, os media assumem, hoje em dia, um papel potencialmente progressista no desenvolvimento das sociedades. Foi com o intuito de vincar essa ideia que, já na década de 70, surgiu um documento [9] divulgado pela UNESCO em que se atribui à comunicação, as seguintes funções:
Informação
Socialização
Motivação
Discussão e diálogo
Educação
Promoção cultural
Distracção
Integração
Daqui se depreende o carácter público e democrático que devem assumir os media no sentido de fomentar o progresso social. Não como circulo fechado ou como estrutura afastada dos cidadãos mas como dinamizador da própria cidadania participada e interventiva. Perante tal reconhecimento por parte de todos, do interesse público que representa o jornalismo, porque se encontra este entre as profissões menos valorizadas pelo conjunto da população? Porque, de facto, a comunicação social não assume esse papel. Os media surgem como reflexo de uma sociedade onde os direitos, iguais à nascença, só existem nas leis. Sociedade que caminha em função do lucro, em que o poder político e económico se afasta dos cidadãos e onde coexiste a riqueza lado a lado com a pobreza.
Só assim se compreendem dados[10] assustadores como os do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD):
• Os 20% mais ricos da população mundial possuem 93% dos utilizadores da Internet e 74% das linhas telefónicas, os 20% mais pobres, por seu lado, não ultrapassam 1% e 1,5% respectivamente.
• Dos 148 milhões de utilizadores ligados à Internet, 90% viviam nos países industrializados, e metade nos EUA. Apenas uma em cada dez pessoas em todo o mundo fala inglês, mas 80% dos sites estão redigidos em inglês.
• Um Computador equivale a um salário mensal de um americano e ao rendimento de 8 anos de um cidadão do Bangladesh.
Estes dados elucidativos não demonstram apenas deficiências graves no plano dos media, demonstram deficiências graves no plano da distribuição e aplicação dos benefícios das conquistas cientificas.
A quem serve a ciência e o jornalismo?
Ciência nas mãos da classe dominante
A evolução da ciência, o desenvolvimento da técnica e a aplicação das descobertas feitas chegaram a um patamar tal que parece impossível que a maioria da população mundial viva na pobreza. A maior prova de que a ciência, na maior parte dos países, é objecto de instrumentalização por parte das classes dominantes encontra-se em Guernica, em Hiroxima, no Iraque, nos milhões de crianças desnutridas e em milhares de outros casos que se poderiam descrever como consequência da aplicação ou da não aplicação das descobertas científicas.
A investigação em ciência, como o jornalismo, só pode sobreviver sob fortes investimentos financeiros. Este é o factor que mais condiciona a acção da ciência e do jornalismo tendo em conta que ficam dependentes das vontades de um conjunto de interesses desta ou daquela classe.
No caso da ciência, entre os vários modelos de financiamento da investigação encontram-se o privado e o público e, dentro destes, podemos considerar que, no primeiro caso, o mais predominante, a ciência passa a servir a empresa que a subsidia e que, no segundo caso, servindo o Estado, serve também os interesses das classes no poder político.
No nosso país, a fraca atitude empreendedora dos empresários e pouca importância dada pelos governantes à investigação revela uma realidade bem diferente da maioria dos países. A este propósito, João Ferreira[11], ex-Presidente e actual membro da direcção da Associação de Bolseiros de Investigação Cientifica (ABIC), analisa que Portugal é ainda um caso atípico já que predomina o financiamento público. No entanto, isto não quer dizer que o investimento estatal seja muito elevado, quer antes dizer que o investimento privado é dos mais reduzidos da Europa sustentando ainda que o financiamento é muito escasso face às necessidades existentes. Relativamente, à realidade dentro da comunidade científica, considera que já se assiste ao ambiente competitivo na busca de recursos financeiros e da obtenção do reconhecimento dos seus pares.
A realidade global demonstra que não basta o investimento na ciência para que haja progresso. Como consequência da investigação científica, o progresso técnico pode ocorrer de formas distintas sob matrizes ideológicas diferentes. A ideologia não está ausente na esfera da ciência e da técnica. Spirkine e Yakhot afirmam que “o progresso técnico tem consequências sociais radicalmente diferentes sob o regime capitalista e sob o regime socialista. Em regime capitalista, a automatização conduz ao desemprego maciço e ao agravamento das crises. Sob o socialismo, o progresso técnico conduz a uma melhoria das condições de trabalho, aproxima o trabalho manual do trabalho intelectual e eleva o nível material, cultural e técnico dos trabalhadores.”[12]
A ciência em diversos momentos é manietada pelas classes dominantes não no sentido do progresso mas no sentido da manutenção do poder. A este respeito, um dos maiores génios do século XX, Albert Einstein, escreveu num polémico artigo[13] que “a ciência, não pode criar fins e, muito menos, incuti-los nos seres humanos; quando muito, a ciência pode fornecer os meios para atingir determinados fins” considerando que estes dependem em muito da ética de quem os define. O problema, lembra Einstein, está no “capital privado (que) tende a concentrar-se em poucas mãos, em parte por causa da concorrência entre os capitalistas e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho encorajam a formação de unidades de produção maiores à custa de outras mais pequenas. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia de capital privado cujo enorme poder não pode ser eficazmente controlado mesmo por uma sociedade política democraticamente organizada.” O desenvolvimento do nuclear, que teve contributos de investigações de Einstein, é um dos maiores exemplos da manipulação da ciência ao serviço das classes dominantes. O próprio condenou fortemente a incineração de milhares de civis em Hiroxima e em Nagasaki como consequência do lançamento terrorista das bombas atómicas por parte da aviação militar norte-americana, certamente dos maiores crimes colectivos da história da humanidade.
Hiroxima e Nagasaki foram também referidas por Rui Namorado Rosa na sua intervenção no Fórum Social Português[14]. “A ciência e a técnica estiveram, desde sempre, subjacentes ao poder político. Essa realidade tornou-se mais actuante com a ascensão do capitalismo, que progressivamente as integrou na sua própria renovação e no exercício do seu poder. É aqui exemplar o Manhattan Project que nos EUA mobilizou, entre 1941 e 1945, dezenas de milhar de pessoas, sob a direcção de um general e uma equipa de cientistas eminentes, com o objectivo preciso de demonstrar a viabilidade e de produzir a bomba nuclear, antes de qualquer outra potência mundial. O lançamento das duas primeiras bombas nucleares no Japão, em Agosto de 1945, foi um acto de agressão de violência sem precedentes, de que ainda hoje a humanidade guarda viva memória e com a qual nunca poderá se reconciliar. (…) O papel da ciência como instrumento da acção política no seio social está bem ilustrado pela sua apropriação pelo poder político para fins militares durante e após a Segunda Guerra Mundial.” Desta realidade pode perceber-se que os cientistas, no âmbito de conflitos armados, agem como instrumentos dos estrategas militares mas Rui Namorado Rosa nega que seja sempre assim até porque, segundo afirma, em várias ocasiões foi a criatividade dos investigadores que imaginou novas armas e foram alguns destes que convenceram os políticos a desenvolvê-las, a testá-las e até mesmo a utilizá-las.
Instrumentalização do jornalismo
A comunicação social e, nomeadamente, o jornalismo assumem neste contexto um papel importante para o capital, enquanto agente dominante. São os grandes meios de comunicação social que fazem a ponte entre a ciência e a técnica e os públicos. Perante o processo de concentração das empresas de comunicação que se traduz em monopólio informativo, Fernando Correia denuncia que “a concentração da propriedade em poderosos grupos económicos contribui para o estreitamento do pluralismo de opiniões (no conjunto dos órgãos e dentro de cada órgão), dificulta a viabilidade das pequenas e médias empresas do sector, controla o debate no espaço público (para o qual os media são decisivos) subordinando-o aos interesses ideológicos, económicos e políticos do poder dos grandes grupos, cada vez mais dependentes do grande capital financeiro.”[15] Esta tem sido, aliás, uma preocupação patente em vários quadrantes. Noam Chomsky reforça a ideia de que a maioria dos órgãos de comunicação social vive tudo menos o pluralismo democrático, ainda que estes veiculem insistentemente a sua existência. “A forma inteligente de manter as pessoas passivas e obedientes é limitar estritamente o espectro da opinião aceitável, mas estimular muito intensamente o debate dentro daquele espectro… Isto dá às pessoas a sensação de que o livre pensamento está pujante, e ao mesmo tempo os pressupostos do sistema são reforçados através desses limites impostos à amplitude do debate”. Esta fachada pluralista configura uma forma de censura e de condicionamento muito mais apurada que as formas utilizadas pelos Estados fascistas e transmite aos públicos uma realidade construída e bem diferente da real.
Frequentemente os media abrem caminho à utilização de instrumentos técnicos desenvolvidos pela ciência que não representam o interesse público. Seja através do alarmismo social, da injecção de medo, fazendo uso da mentira e da manipulação, condicionam a reacção das pessoas a esta ou àquela situação.
Jornalismo e Ciência: armas de guerra
No plano especifico dos conflitos bélicos, Carlos Azevedo afirma que “a primeira vítima de uma guerra é a verdade. Com certeza, em época de conflitos bélicos mundiais, tal afirmação aplica-se muito bem ao papel dos media. A chamada guerra contra o terrorismo empreendida pelos Estados Unidos contra o Afeganistão traz de volta a visão dos meios de comunicação como instrumentos de busca da hegemonia e de controlo da opinião pública mundial.”[16] Tais premissas encontram verdade nas notícias veiculadas pela CNN de que a Guerra do Golfo era uma guerra “limpa” visto que, segundo afirmava a cadeia norte-americana, as bombas conduzidas por computadores e sinais de rádio tinham uma precisão cirúrgica e, como tal, havia poucas baixas.
O jornalista uruguaio José Fernandéz dizia num congresso em Havana que “a informação que é fornecida dura o instante que é preciso para ser exibida. Não há um antes e um depois como continuidade entre o passado e o futuro. O processo de meditar sobre a informação para confrontá-la com a realidade e tomar posição face a ela está assim condicionado pela realidade do fugaz. Só acontece o que as grandes cadeias de informação escolhem difundir. As guerras duram o tempo que durar a necessidade política de difundi-las, os resultados serão os que o sistema queira que sejam. Até os mortos são “mais mortos” de acordo com quem ataca quem.”
É interessante comparar o tratamento feito à guerra no Vietname e o tratamento feito à guerra que se verifica no Iraque. Os Estados Unidos souberam tirar as suas ilações e aprender com a lição, não com a derrota que o povo vietnamita lhe infligiu mas com a liberdade com que alguns órgãos televisivos passavam imagens de combates à luz do dia. Actualmente, é raro ver-se a barbaridade de uma linha da frente e nada mais sobra da peneira da censura que explosões luminosas na escuridão da noite.
É também significativo que os Estados Unidos, com larga vantagem sobre qualquer outro país no plano militar, continuem a investir milhões de dólares no desenvolvimento de novas armas. Durante a Guerra Fria, o Estado norte-americano usava a comunicação social para alimentar a ideia da permanente ameaça de guerra nuclear com a União Soviética e agora, mais de uma década após a implosão desse país, os Estados Unidos permanecem usando a comunicação social para legitimar os seus investimentos militares. Desta vez não é o comunismo, o Império do Mal, mas o terrorismo islâmico que se apresenta como a nova forma de legitimação do permanente e contínuo investimento na indústria militar.
Nada disto seria desconhecido aos dirigentes nazis. “Com voz ou sem ela, o povo pode sempre ser levado a submeter-se à vontade dos dirigentes. É fácil. Tudo o que se tem de fazer é dizer-lhe que está a ser atacado, e denunciar os pacifistas por falta de patriotismo e por exporem o país ao perigo”. Esta frase poderia ser facilmente atribuída aos responsáveis de comunicação da Casa Branca mas na realidade é propriedade de Goering, comandante da Luftwaffe, a força aérea nazi.
Em 1996 um repórter da CBS perguntou a Madeleine Albright, secretária de Estado norte-americana no Governo de Bill Clinton: “- Ouvimos dizer que meio milhão de crianças morreu (em consequência da política americana contra o Iraque). Valeu a pena pagar esse preço?”. Ao que a dirigente respondeu: “-Nós pensamos que valeu a pena.” É esta a ética de dirigentes que escolhem os fins para os quais a ciência cria meios.
Poderíamos citar dezenas de situações em que o jornalismo e a ciência remam contra a maré do progresso da sociedade humana. No silêncio perante as consequências das novas tecnologias, no alarmismo hipocondríaco que serve a indústria farmacêutica, nos casos de experiências com animais, no alarmismo securitário que abre caminho à criação de sistemas de controlo social como os satélites, as escutas telefónicas, cada vez mais aperfeiçoadas, a esse colosso orwelliano chamado Echelon[17] e à manipulação genética.
Não podemos desligar tudo isto do imperialismo cultural que se vive, com a pátria de Madeleine Albright à cabeça, onde se insere a ciência e o jornalismo como elementos constituintes. Pierre Bourdieu e Löic Wacquant qualificam-no de “imperialismo da razão neoliberal” que encontra realização intelectual em dois novos protagonistas da produção cultural. “Primeiramente o especialista que prepara, na sombra dos bastidores ministeriais ou patronais ou no segredo dos think tanks (bancos de ideias), documentos de um forte cunho técnico, e tanto quanto possível construídos em linguagem económica e matemática. De seguida, o conselheiro em comunicação do príncipe, trânsfuga do mundo universitário agora ao serviço dos dominantes, cujo serviço é dar forma académica aos projectos políticos da nova nobreza de Estado e da empresa.”[18] Ainda apontam o “culpado” do modelo utilizado à escala mundial, o sociólogo Anthony Giddens, pai da “teoria da estruturação”.
O que fazer?
Não obstante o contexto adverso aqui apresentado, que radica indubitavelmente no sistema capitalista, existem excepções. Os meios de comunicação não são apenas ferramentas das classes que dominam mas também ferramentas das classes dominadas. Na luta entre classes a comunicação assume um papel fulcral ainda que as classes dirigentes tenham acesso a estruturas mediáticas inalcançáveis às mãos dos que estão fora do poder. Para a classe trabalhadora a Internet assume-se como um instrumento essencial enquanto meio menos dispendioso e onde o equilíbrio entre classes é mais nítido. A informação alternativa prolifera e já é tida como uma das razões para o decréscimo da venda de jornais e revistas, ao que não serão alheias as leis em estudo para controlo dos conteúdos na World Wide Web. Num plano já de desequilíbrio existem jornais e revistas de contra-informação que estão desligadas dos princípios economicistas e da lógica do lucro. Os meios televisivos, que abarcam no conjunto dos meios de comunicação social a maior audiência, estão obviamente longe das possibilidades de controlo por parte da generalidade da população, exceptuando-se os casos raros em que a classe trabalhadora domina o poder político e económico.
Em todos estes casos, em que a comunicação social se assume como independente do capital, e portanto independente de quem domina a ciência, existe a denúncia da ciência que se assume contrária aos pressupostos do progresso e desmascara-se o papel dos meios de comunicação como ferramenta da burguesia capitalista na divulgação dos meios criados pela ciência para atingirem os seus fins. Há também que destacar-se o papel de muitos jornalistas que individualmente decidiram desafiar os editores denunciando as agressões contra povos, a manipulação mediática e o estreitamento da democracia. Há poucos dias foram revelados planos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha com o intuito de se bombardear a sede da cadeia televisiva árabe; há dois anos foi assassinado, em Bagdade, José Couso, jornalista da TVE; há meses, a jornalista italiana Julia Sgrena foi alvo de uma tentativa de homicídio quando passava por um posto de controlo norte-americano no Iraque. Há também o caso de milhares de cientistas que contestam a utilização da ciência para fins bárbaros e estão na linha da frente contra a guerra. Apesar de tudo, existem jornalistas e cientistas que desafiam diariamente a vida para que a verdade nos chegue e rompa a realidade construída através de argamassa de mentiras. E é quando esta realidade se desmorona que os públicos reagem contestando o que se lhes apresenta como certo, disso são exemplo as manifestações contra a barbárie da guerra.
Para que a ciência e o jornalismo assumam de vez os seus papéis de destaque no progresso da sociedade humana será necessário eliminar as razões que as impedem de vestirem tal protagonismo. A ingenuidade permitiria crer que a humanidade por si só se renovaria nesse sentido. Ora, o imperialismo cultural a que se referiam Bourdieu e Wacquant impelem a reprodução do pensamento dominante geração após geração. Só abalando as estruturas e os alicerces que fundam a nossa sociedade num sistema que promove a desigualdade se conseguirão devolver aos princípios éticos a consistência prática que necessitam. Pierre Bourdieu preconizava um “espaço relativamente autónomo, microcosmo dotado de leis próprias” para se fugir à dualidade dos que acreditam na “ciência pura”, livre de qualquer necessidade social, e da “ciência escrava” sujeita a todas as pressões político-económicas. Albert Einstein, no seu artigo “Porquê o socialismo?” apresentava a “constituição de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educativo orientado para objectivos sociais. Nesta economia, os meios de produção são detidos pela própria sociedade e são utilizados de forma planeada. Uma economia planeada, que adeqúe a produção às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre aqueles que podem trabalhar e garantiria o sustento a todos os homens, mulheres e crianças. A educação do indivíduo, além de promover as suas próprias capacidades inatas, tentaria desenvolver nele um sentido de responsabilidade pelo seu semelhante em vez da glorificação do poder e do sucesso na nossa actual sociedade.”
Livros consultados:
- A. Spirkine e O. Yakhot, O materialismo histórico, Montijo, Breviários de Cultura, 1975
- Fernando Correia, Jornalismo e Sociedade, 1ª edição, Lisboa, Editorial «Avante!», 2000
- H. Lefebvre, O marxismo, 1ª edição, Lisboa, Circulo de Leitores, 1974
- Vários, O livro negro do capitalismo, 3ª edição, Famalicão, Campo das Letras, 1999
- João Cardoso da Cruz, Introdução ao estudo da comunicação, 1ª edição, Lisboa, ISCSP, 2002
- Constituição da República Portuguesa, Lisboa, Almedina, 2002
- Peter Scowen, O livro negro da América, 4ª edição, Oeiras, DIFEL, 2003
- Vladimir Ilitch “Lenine”, Propaganda e Agitação, Moscovo, Edições Progresso, 1984
- Armand Mattelart, História da sociedade da informação, 1ª edição, Lisboa, Bizâncio, 2002
- João Caraça, O que é a ciência?, 2ª edição, Coimbra, Quimera, 2001

Sítios consultados na Internet:
- Robert Fisk (2005), Al-Jazeera, en la mira de los EEUU, La Jornada, disponível em http://www.rebelion.org/noticia.php?id=23357
- Carlos Chaparro (2004), Ciência x Jornalismo, embate estúpido, disponível emhttp://www.comuniquese.com.br
- Carlos Azevedo (2001), Meios de comunicação como armas de guerra, Universidade Federal de Paraíba, disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/azevedo-carlos-comunicacao-armas-guerra.pdf
- Pierre Bourdieu (1995), Combater a la tecnocracia en su próprio terreno, Libération, 14 de Dezembro de 1995
- Pierre Bourdieu, Os usos sociais da ciência – por uma sociologia clínica do campo cientifico, São Paulo, Editora Unesp, 2004, disponível parcialmente em http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/matéria/view
- Carla Mary S. Oliveira (2001), O que é a ciência e o fazer ciência para Bourdieu?, texto apresentado à disciplina “Seminários Avançados em Sociologia I”, Universidade Federal de Paraíba
- Pierre Bourdieu; Löic Wacquant (2004), O imperialismo da razão neoliberal, disponível emhttp://npmueg.ubbihp.com.br/pos1-3bourdieu.htm
- Noam Chomsky (2004), El control de los medios de comunicacion, disponível em http://www.rebelion.org/autores.php?id=10
- Rui Namorado Rosa, Einstein – Cidadão e cientista, disponível em http://www.resistir.info
- Fernando Correia, Jornalismo e interesses de classe
- Rui Namorado Rosa (2003), A ciência ao serviço da guerra? A ciência e a técnica ao serviço do poder político?, intervenção no Fórum Social Português, disponível em http://resistir.info
- Cláudia Jurberg, Ciência ao alcance de todos: experiências de educação e distância em jornalismo científico, tese submetida ao corpo docente do Departamento de Bioquímica Médica do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Ciências
- Luciano Alzaga, Meios de comunicação: ferramenta fundamental de opressores e oprimidos, intervenção no Encontro Internacional “Civilização ou Barbárie”, Serpa, Setembro de 2004, disponível em http://resistir.info
-Noam Chomsky (2005), Recurrir al miedo, disponível em http://www.rebelion.org/autores.php?id=10
-Graça Caldas, Falta visão critica ao jornalismo cientifico, disponível em http://www.jornalismocientifico.com.br/artigos.htm
- Albert Einstein, Porquê o socialismo?, artigo publicado na revista Monthly Review, nº1, Maio de 1949, original disponível em http://www.monthlyreview.org/598einst.htm
- Iñaki Gil de San Vicente (2005), Emancipación nacional y praxis científico-crítica, disponível emhttp://www.rebelion.org/autores.php?id=49
- Eduardo Meditsch (1997), O jornalismo é uma forma de conhecimento, Universidade Federal de Santa Catarina
[1] João Caraça, O que é a ciência?, 2ª edição, Coimbra, Quimera, 2001. p. 74.
[2] A. Spirkine e O. Yakhot, O materialismo histórico, (s.d), Montijo, Breviários de Cultura, 1975, p. 25.
[3] Idem, pp. 38-41.
[4] K.Marx e F. Engels, Correspondência, Moscovo, Edições do Progresso, 1971, p. 506.
[5] João Caraça, O que é a ciência?, 2ª edição, Coimbra, Quimera, 2001, p.81
[6] Cláudia Jurberg, tese submetida ao corpo docente do Departamento de Bioquímica Médica do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Ciências.
[7] Mário Erbolato; Júlio César Barbosa, Comunicação e quotidiano, Editora Papirus, 1984
[8] Carlos Chaparro, Ciência x Jornalismo, embate estúpido, disponível em http://www.comuniquese.com.br(04.06.2004)
[9] Sean MacBride e outros, Voix multiples, un seul monde, UNESCO, 1980
[10] Relatório de 1999 do PNUD
[11] Entrevista do autor ao próprio
[12] A. Spirkine e O. Yakhot, O materialismo histórico, (s.d), Montijo, Breviários de Cultura, 1975, p. 41
[13] Albert Einstein, Porquê o socialismo?, 1ªedição da revista Monthly Review, Maio 1949
[14] Rui Namorado Rosa, A ciência ao serviço da guerra?, intervenção no Fórum Social Português, 7 de Junho de 2003, disponível em http://www.resistir.info
[15] Fernando Correia, Jornalismo e Sociedade, 1ª edição, Lisboa, Editoral «Avante!», 2000
[16] Carlos Azevedo, Meios de comunicação como armas de guerra, Universidade Federal de Paraíba
[17] O Echelon é um sistema complexo de satélites que controlam e filtram os conteúdos da informação trocada entre meios de comunicação
[18] Pierre Bourdieu; Löic Wacquant, O imperialismo da razão neoliberal, disponível emhttp://npmueg.ubbihp.com.br/pos1-3bourdieu.htm
Este artigo encontra-se em http://kontra-korrente.blogspot.pt/2012/12/jornalismo-em-ciencia-mais-do-que-uma.html#more
 

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