domingo, 10 de fevereiro de 2013

Urariano Mota: Feliz carnaval,princesinha!


publicado em 9 de fevereiro de 2013 às 21:16

por Urariano Mota, em Direto da Redação
A imagem da menina do último carnaval, eu pensei tê-la esquecido. Dizem que uma imagem vale mil palavras. Bobagem, diz não. Entre tantas que cometi no carnaval que passou, do porta-estandarte de Banhistas do Pina, orgulhoso da sua tradição, ao desfile do Bloco da Saudade, com suas mulheres bonitas, mais um imenso galo ao fundo sobre a ponte, a mais bela é a que se mostra em cima desta coluna. Ela ficou na memória, acredito, porque ela não era uma imagem. É uma pessoa. É uma linda menina, passado e futuro do carnaval. A princesinha da imagem era a filha da cozinheira de um boxe do Mercado da Boa Vista. Ela, a menina, tão feliz estava, que nem comeu todo o seu almoço no prato. Talvez a mãe, generosa como todas, tenha posto mais comida do que a menina queria. Mas não, penso mais é que a princesinha estava tão feliz, que perdeu a vontade de comer, assim como ocorre a todos nós em raras ocasiões. Quando o peito está contente, para que melhor alimento?
A princesinha, informa a foto, portava uma coroinha de lata, um vestidinho verde, umas trancinhas que caíam em graça pelos lados da coroinha. O que a foto não diz é que as trancinhas elegantes davam na gente uma vontade de cheirar os cabelos da princesinha. Vontades assim dão na gente, de vez em quando, mas o adulto, escolado, sabe que a beleza, se tocada, pode reagir mal. Assim como um cão amarrado em corrente, que na infância enfiou os dentes na mão do colunista, bem lembro. Não que a princesinha fosse morder. Pelo contrário, ela ainda mais sorriria encabulada, penso. Mas morderiam este escrevinhador outros homens na multidão do mercado, porque deviam achar descabido um beijo em trança rebelde de uma criança negra. Coisa de pedófilo se aproveitando do carnaval, assim podia pensar a maldade do vulgo em forma de julgamento. Por isso eu a toquei com os olhos, que estavam encantados e úmidos de álcool e emoção, nessa mistura que vem no rosto e nem a disciplina mais férrea consegue esconder. Então pedi a minha mulher, “tire por favor a foto da princesinha”. E o celular registrou.
Eu não lembro agora o seu nome. É claro, eu lhe perguntei tudo, o nome, idade, bairro, quem eram os pais, essas perguntas idiotas de repórteres que primam pela objetividade. Ou seja, aqueles clássicos 5 burros Ws: Who, What, Why, Where, When, que traduzidos se mostram mais límpidos ainda na sua burrice: Quem, O quê, Por quê, Onde e Quando. Meu Deus dos ateus, só não perguntei à princesinha, para minha salvação, se ela gostava de carnaval. Se gostava!… ela era um sorriso amplo, guardado, de menininha cuja beleza não é um esplendor, mas que faz a alegria e ternura da sua mãe. Isso, sim. Mas isso, sim, também, transmite felicidade e amor a quase toda a gente.
Eu queria falar tudo o que manda o coração para essa menina. Eu bem queria ser um homem feliz por dizer tudo o que ela inspira em um espaço tão breve, que será visto de passagem, entre um flash e outro da última notícia, entre a passagem de um bloco, de um maracatu, de um clube ou outro nas ruas. Por isso digo apenas, antes que esqueça, que o sorriso da princesinha era triste e feliz em um só movimento. O triste vinha do seu modo de ser, ou da pequena experiência que ela já possuía da crueldade do mundo. E feliz, ainda assim, porque tão poucas vezes ela foi ou será princesa, uma princesinha, ainda que de mentirinha, sorrindo para alguém que a descobriu no meio da multidão. E feliz também ela era porque crianças não gostam de ser tristes, crianças retiram do maior golpe um instante para sorrir. Como agora, nesta imagem do carnaval que passou e permanece.
Então eu a vou chamar de Mariinha, quem sabe, princesinha Maricota, quando mais próprio seria chamá-la de Eutanasinha. Sim, uma pequenina eutanásia, porque no seu sorriso há um quê de matar sem dor a gente, ou de matar suave, que é uma forma de matar no coração que fala baixinho agora, enquanto o som dos clarins não toca mais alto: olha, a humanidade está na infância e ninguém vê. É toda uma gente muito bárbara, princesinha, tão bárbara, que pensou tê-la esquecido no carnaval do ano que passou.
Dizem sempre e repetem até o cansaço que uma imagem vale mil palavras. Bobagem, princesinha. Difícil é encontrar a foto que expresse as mil palavras que o afeto dos mais bárbaros quer dizer. Assim, façamos um acordo de paz provisória entre o que pretendia tudo falar e a tua imagem no mercado: feliz carnaval, Eutanasinha. O cheiro que não te dei vai nesta coluna.

recomendo que leiam e pensem em todos os problemas que podem ser evitados quando se usa camisinha.
Te admiro muito, e gostaria que você publicasse minha história para alertar todos os seus leitorxs (que são muitos e esclarecidos) sobre dois grandes vilões que fizeram e fazem parte da minha vida.
O primeiro é o HPV [uma doença sexualmente transmissível, ou DST]. Eu o contraí aos 15 anos de idade, na minha primeira relação sexual (deixo claro que, na minha ingenuidade da época, não usei camisinha) com um "quase desconhecido" -- um ficante, que nem mesmo era da minha cidade. Só descobri que tinha HPV aos 16 anos, quando fiz um preventivo e a ginecologista viu que eu tinha manchas internas no colo do últero. Até então, eu nunca tinha tido nenhuma manifestação da tal doença (ex: verrugas, erupções etc). Nem mesmo tinha chegado a vacina contra HPV aqui no Brasil! Imagine a decepção da minha mãe ao saber que sua filha tinha perdido a virgindade com um "vagabundo" e além disso pegou uma doença! Era muita informação pra cabeça dela, e pra minha também.

Tive que começar um tratamento de cauterizações no consultório da médica. Ao total foram três sessões. É usado um aparelhinho que queima o local contaminado, o que causa uma dor aguda e fina, como se fosse uma cólica menstrual triplicada. Em um ano fui quatro ou cinco vezes ao ginecologista. Era complicado. Eu imaginava o que as pessoas diriam de mim se soubessem que eu peguei uma doença sexual (que é tão associada a mulheres promíscuas)! Mal sabem que isso afeta a maior parte da população brasileira.
O engraçado, Lola, é que eu comentei pro rapaz que tinha tido HPV. E que tinha pegado com ele, porque tinha sido meu único parceiro sexual. Ele jogou o corpo fora, dizendo que era impossível, mas ainda assim fez o exame, que NÃO ALEGOU NADA! Ou seja: ele só transmite, o vírus não se manifesta. Enfim, ele se confiou nisso. Anos mais tarde conheci uma outra ex ficante dele que me viu comentando em uma comunidade de HPV no orkut (o que me foi muito útil na época), e tínhamos "ele" como amigo em comum, e ela alegou que pegou HPV dele também.
Você só pode se sentir curada do vírus do HPV se ele não reaparecer cinco anos depois da manifestação, o que é o meu caso. Sempre faço os exames, e o meu sonho é tomar as vacinas, porque de certa forma o organismo cria resistência.
Passado o stress do HPV, ano passado me veio a HERPES TIPO II (herpes genital). Estou namorando atualmente, e ambos tínhamos feitos exames de doenças, que não constaram nada fora do anormal. Então decidimos fazer sexo sem camisinha, usando apenas o anticoncepcional.
Até que um dia apareceu uma ferida com tamanho de um caroço de feijão na cabeça do pênis do meu namorado, o que lhe causou muita dor! Um dia depois amanheci com uma ferida na vagina, o que eu achava que era por conta do sexo. Meu namorado procurou o urologista, fez exames, e no dele constou que não era herpes, e sim um fungo. Eu não tive a mesma sorte.
Eu estava cada vez pior, minha vagina se encheu de feridas, bolhas, erupções... Eu mal conseguia andar direito, meus lábios vaginais triplicaram de tamanho e o meu clítoris ficou todo pra fora! Fiquei deformada! Até meu ânus tinha ferida! E eu não procurei ajuda por vergonha... O que minha mãe pensaria de mim outra vez? E o médico? Aliás, pra marcar uma consulta com minha ginecologista, tenho que marcar com meses de antecedência.
Até que chegou o quinto dia (eu chorava de dor e faltava à academia e faculdade) e eu não aguentei mais. Desesperada, falei com minha mãe, e ela ligou pra minha médica. Logo ela disse que tudo indicava que era herpes e mandou eu tomar o Aciclovir (é como uma droga MUITO FORTE contra esse vírus). Duas semanas depois minha vagina estava normal, mas como a minha ginecologista falou, sempre teria herpes. Tenho que ficar controlando minha imunidade, alimentação etc, porque se não... tenho uma crise!
Eu fico me perguntando como fui manifestar isso. Minha médica disse que todos nós temos herpes, mas poucos manifestam. Então, fui uma das "contempladas".
Nós mulheres somos bem mais suscetíveis a pegar doenças desse naipe. Candidíase (corrimentos brancos) chega a ser comum para todas nós, mas costumamos esconder isso dos homens. É um tabu muito grande falar sobre essas coisas, até porque na nossa errônea visão todos são aparentemente tão saudáveis, né? O ficante da minha primeira vez era lindo e atlético -- quando eu iria imaginar (com 15 anos) que ele era um fornecedor de doenças?
Eu mesma sempre cobro exames de sangue e faço questão de fazê-los também. Isso é uma questão de confiança!
Não é fácil ter que mudar seus hábitos por causa de um vírus. Ter de evitar uma cervejinha, não poder ter uma noite mal dormida, sempre ficar machucadinha ao fazer sexo (porque a vagina fica muito mais delicada e sensível a tudo), não poder se estressar, e morrer de medo de adoecer por conta dos surtos de herpes voltarem... Pois é assim que ando vivendo. Sem dramas, mas é ruim demais! Mudei minha alimentação, tenho que praticar exercícios diariamente, tomo duas vitaminas e fico longe de pessoa com gripe!
Queria poder alertar de alguma forma as mulheres com essas doenças e os homens também. Que eles tenham mais sensibilidade em arcar com suas responsabilidades, abertura pra poder dialogar sobre o assunto e franqueza com suas parceiras e parceiros. E sempre, sempre usar camisinha. 
Peguei esta imagem daqui. Clique para ampliá-la.

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