terça-feira, 12 de março de 2013

A inevitável comparação com a rede particular Cinthia Rodrigues - ig

 
Sem saber se nossos filhos conseguiriam vaga na creche municipal, fomos conhecer alternativas de particulares tendo como parâmetro a pública para a qual já estavam inscritos. Depois, quando fomos chamados a fazer a matrícula na municipal, voltamos lá com as impressões das escolas privadas que conhecemos nos meses de espera. As comparações foram inevitáveis.
Por conta do meu trabalho como repórter, sabia que a unidade da Prefeitura de São Paulo atenderia a um padrão. Todas têm salas amplas, lugares para brincar ao ar livre, merenda supervisionada por nutricionista e, principalmente, professores formados e com carga horária razoável – o horário dos alunos é dividido em dois turnos de docentes, que completam o tempo na escola com o preparo das aulas.
No caso das particulares, achava que encontraria modelos, filosofias e preços variados. No discurso, de fato isso ocorreu. Uma adotava, desde o berçário, grade horária de atividades para garantir que toda semana houvesse, por exemplo, atividade musical. Em outra, a diretora foi falando de como os alunos eram preparados desde cedo para seguir um sistema de ensino. Uma terceira era bilíngue e tinha lousas digitais e a última uma mini fazenda. Na prática, eram todas casas mal adaptadas em que o espaço para o berçário era do tamanho de um dormitório.
Na maioria delas, os bebês de até um ano, por ainda não andarem, eram confinados a espaços fechados no andar superior. Havia uma sala para brincar e outra para os berços. Os grupos a partir de um ano e meio tinham acesso ao pátio – entenda-se quintal do imóvel – ocupado ao mesmo tempo por mesas para comer e raros brinquedos. A que tinha um espaço maior ao ar livre e os bichos, não por acaso, não tinha mais vagas para os próximos dez meses.
Em uma das creches privadas, a professora responsável pelo berçário tinha apenas o ensino médio e as ajudantes, curso de berçaristas – que dura um fim de semana. Em todas, as professoras trabalhavam durante todo o período disponível para permanência das crianças que chegava a 11 horas. As mensalidades também variavam pouco, custavam de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil por criança.
A linha consumista era unanimidade. Na lista de materiais era comum pedir etiquetas personalizadas e indicar uma “parceira” que confeccionasse. Os calendários anuais também previam excursões com “custo a parte” e, como era fim de ano, soubemos também das festas com “figurino e lembranças em áudio e vídeo”, sempre com um preço.
Por isso tudo foi um alívio sermos chamados para a escola pública. Os parquinhos e a área gramada disponíveis para as crianças, a piscina de bolinha, as casas em miniatura, os triciclos, os livros de borracha e a sala do berçário sem lousa, cheia de brinquedos e espaço para engatinhar à vontade pareceram um luxo.
Mas também ficaram as comparações dos pontos em que as unidades particulares pareciam fazer melhor. Quando entrei calçada na sala dos meus filhos, por exemplo, lembrei de ter usado botas descartáveis em uma unidade e descalçado os sapatos em outra. Quando voltei algumas vezes na mesma escola particular com mais e mais perguntas, fui sempre prontamente atendida, enquanto a municipal respondia apenas que “tudo seria tratado na reunião”.
Claro que essas foram impressões iniciais e tanto um sistema quanto outro teriam muito mais a mostrar, mas fiquei com uma certeza: se a classe média fosse conhecer a creche pública, a fila por vagas em São Paulo seria muito maior.

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