terça-feira, 30 de abril de 2013

Lucas Mendes: Mi carro es su carro



Lucas Mendes: Mi carro es su carro

Lucas Mendes

De Nova York para a BBC Brasil


O correto seria "coche", mas hoje nós vamos de carro.

Nos avançadíssimos Estados Unidos, as primeiras experiências com carros divididos no cotidiano foram na década de 90. Na Suíça já existiam 600 organizações oferecendo o mesmo serviço, mas o que acontece na Suíça raramente se repete fora da Suíça, uma civilização muito mais avançada.

A primeira vez que li uma matéria sobre empresas que alugavam carros por minuto, hora e dia, foi há uns dez anos. A ideia era tão lógica e prática que liguei para comprar meia dúzia de ações. Não estavam à venda no mercado.

Agora, estão em mais de vinte cidades americanas, com quase um milhão de associados, um salto de 40% desde o ano passado. E quem menos comprou carros deste 2007? A geração Y, a nova, dos 18 aos 34. Entre eles, a queda nas vendas foi de 30%.

Dos meus três filhos, nenhum tem carro nem quer comprar. Dois não tem nem carteira, um nunca aprendeu a dirigir.

Eu fiquei 10 anos sem carro e sem sentir falta dele, mas desde a década de 90 comecei a fazer "leases" porque a equipe usava o carro para reportagens durante o dia e eu o usava nos fins de semana. Para quem dirige menos de 12 mil milhas por ano, 19.200 quilômetros, fazer lease sai mais barato do que comprar.

"Vou economizar uma baba e ficar mais sadio com caminhadas e bicicletadas."

E a tortura da compra de um carro novo? Escolher entre dezenas de modelos, cor exterior e interior, couro ou plástico, potência, consumo de gasolina, bagulhos eletrônicos, som, GPS. O seguro, a garagem, a gasolina. As preferências da mulher.

E a malandragem do vendedor? O preço nos anúncios sobe de US$ 300 para US$ 500 por mês quando você vai à revendedora. Um dos vendedores mais espertos que encontrei foi um mineiro, vizinho de bairro em BH, adorável, jazzista. Que talento para enganar os amigos.

Depois da experiência com ele, passei a fazer leases com a condição de não ter que falar com o vendedor. Escolhia ao carro e os detalhes pela internet, ligava e marcava a hora para assinar o contrato. No fim do lease, em geral de três anos, ligava e pedia outro carro igualzinho. Entrava , devolvia o velho e em 20 minutos saia com o novo da revendedora.

Estou no meu último carro. Quando o contrato terminar ano que vem, vou aderir ao carro por minuto, por hora ou por dia. E às milhares de bicicletas coletivas que vão chegar em maio.

Vou economizar uma baba e ficar mais sadio com caminhadas e bicicletadas.

Tenho um amigo de 71 anos que vendeu a empresa dele por US$ 125 milhões. Só anda de bicicleta e metrô. A dele é uma destas minis, dobráveis. Chega nos encontros para discutir milhões de capacete, a mini debaixo de um braço e a pasta noutro ombro. Antigamente, provocava espanto. Hoje, costuma encontrar outro ciclista milionário na mesa.

Bicicleta não funciona no inverno e mal na chuva. Há várias opções de aluguel de carros e hoje entrei para duas, Zipcar e Relayrides.

Na Zipcar você paga uma taxa de inscrição de US$ 60, em menos de dez minutos preenche o formulário e meia hora depois chega a confirmação. O cartão magnético que abre os carros vem pelo correio em dois ou três dias.

Dependendo do modelo, o carro pode custar menos de US$ 20 por hora. Nos feriados e fins de semana convém reservar com antecedência.

Relayrides é uma espécie de ação entre necessitados que não se conhecem. Entrei no site e, em menos de cinco minutos, mais 30 carros estavam à minha disposição a menos de 10 minutos. Mercedes 2012 por US$ 19 a hora ou US$ 80 por dia. BMWs um pouco mais antigos por US$ 10 a hora. Você encontra o modelo que você quiser por preços que não acredita.

Há quem compre carro para alugar e muitos donos colocaram os deles na praça. Pelas pesquisas, o carro fica à toa 92% do tempo.

Hoje um bilhão de carros estão nas encruzilhadas globais e pela voracidade dos consumidores emergentes, serão dois bilhões daqui a sete anos. Um caos imundo e infernal. Pequim, México e São Paulo estão entre as cidades com ares mais envenenados.

As indústrias de automóveis e petróleo com seus trilhões de dólares e milhões de empregos não vão quebrar nos próximos cinco anos, mas aquele carro que era o sonho dos jovens, símbolo de status, possuído por egoísmo, engraxado com carinho e exibido com peito estufado, vai virar transporte coletivo. O carro é meu, é seu, é dele, é nosso. Os emergentes um dia chegam lá.

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