terça-feira, 28 de maio de 2013

O poder da igualdade social



O poder da igualdade social

Andrew Clark

Especial para a BBC



O grande exemplo que a Islândia proporciona ao mundo.
Os filhos dos magnatas estudam nos mesmos colégios das outras crianças, na Islândia

Os filhos dos magnatas estudam nos mesmos colégios das outras crianças, na Islândia



Embora eu tenha crescido na Nova Inglaterra, no nordeste dos Estados Unidos (onde neva com frequência no inverno), senti uma sensação diferente ao ver as nevascas islandesas. Era algo paralisante, com rajadas de vento épicas que faziam com que os flocos de neve parecessem navalhas.

Quando deixei minhas malas no solo coberto de neve da capital, Reykjavik, um homem se aproximou de mim em um jipe.

“Quer subir?”, perguntou-me.

Aquilo parecia uma loucura. Quem entraria no carro de um desconhecido?

Mas, apesar do que já me disseram sobre pegar carona com estranhos, pulei na parte traseira do veículo sabendo que nada de mal aconteceria.

Pois, afinal de contas, eu estava na Islândia. Eu ficaria por lá uma semana com o intuito de estudar os baixos índices de criminalidade do país. Essa era minha segunda viagem a essa gélida nação em seis meses.

Passei os últimos três anos na Universidade de Suffolk, no Estado americano de Boston, estudando direito internacional.

Antes de minha primeira visita a Reykjavik, em agosto de 2012, já havia definido o tema da minha tese: faria um estudo sobre a Convenção de Genebra para a guerra cibernética.

Mas aquela semana na Islândia mudou meus planos. Estava agradavelmente surpreso com o que vi.

Os crimes violentos eram praticamente inexistentes na Islândia. As pessoas pareciam despreocupadas com sua segurança ou de seus filhos, a ponto de deixar as crianças sozinhas na rua.

Passei temporadas na Noruega, na Suíça e na Dinamarca, mas agora esses países pareciam tomados pelo crime, em comparação com a Islândia.

De volta aos Estados Unidos, mudei o tema de minha tese. Queria saber qual era o segredo da Islândia.

Francamente, não há uma resposta perfeita para explicar por que o país está entre os que detêm os menores índices de criminalidade do mundo.

Segundo o UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes), a taxa de homicídios na Islândia entre os anos de 1999 e 2009 nunca foi mais alta que 1,8 por 100 mil habitantes.

Os Estados Unidos, por sua vez, registraram no mesmo período taxas de homicídio anuais de 5 a 5,8 casos para cada 100 mil habitantes.

No Brasil, a taxa é ainda maior, de 23 homicídios por 100 mil habitantes.

Depois de conversar com professores, autoridades, advogados e jornalistas, os fatores do sucesso da Islândia nessa área começaram a ser delineados – embora seja impossível determinar em que medida cada um deles contribui para o resultado final.

Em primeiro lugar, quase não há diferença entre as classes alta, média e baixa na Islândia. Por causa disso, praticamente inexiste tensão econômica entre classes – algo raro em outros países.

Um trabalho de um estudante da Universidade do Missouri que analisou o sistema de classes islandês descobriu que somente 1,1% dos participantes do levantamento se descreviam como classe alta e apenas 1,5% como classe baixa.

Os 97% restantes se identificaram como classe média, ou trabalhadora.

Em uma das minhas três visitas ao Parlamento islandês, me reuni com Bjorgvin Sigurdsson, ex-presidente do grupo parlamentar da Aliança Social Democrata.

Para ele e para a maioria dos islandeses com quem falei, a igualdade é a principal causa da quase ausência de crimes.

“Aqui os filhos dos magnatas vão aos mesmos colégios que o restante das crianças”, afirmou Sigurdsson.

Para ele, os sistemas de serviços públicos e de educação do país promovem a igualdade.

Os poucos crimes que acontecem no país geralmente não envolvem armas de fogo, apesar dos islandeses possuírem muitas.

A página de internet GunPolicy.org estima que haja aproximadamente 90 mil armas no país – cuja população é de cerca de 300 mil pessoas.

Isso faz com que a Islândia figure na posição número 15 do ranking mundial de posse legal de armas de fogo per capita.

Mas adquirir uma arma de fogo não é fácil no país. O processo inclui um exame médico e uma prova escrita.

A polícia também não anda armada. Os únicos agentes que podem portar armas de fogo são uma força especial chamada “Esquadrão Viking”, que atua em poucas ocasiões.

Além disso, o tráfico de drogas na Islândia é pouco expressivo. Segundo um relatório da UNODC, o consumo de cocaína por cidadãos com idades entre 15 e 64 anos é de 0,9%, o de ecstasy, 0,5%, e o de anfetaminas, 0,7%.

Também há uma tradição na Islândia de denunciar os crimes diante de qualquer indício ou agir para freá-los logo no início, antes que a situação piore.

No momento, a polícia está combatendo o crime organizado enquanto o Parlamento discute leis para ajudar a desmantelar essas redes criminosas.

Quando as drogas pareciam ser um problema em expansão no país, o Parlamento estabeleceu uma política antidrogas independente e um tribunal especial para lidar com o problema. Isso aconteceu em 1973. Nos dez primeiros anos de funcionamento do tribunal, 90% dos casos foram resolvidos com multas.

Esses são os segredos da Islândia, que poderiam orientar outros países que buscam soluções para seus problemas de delinquência.

Por isso, enquanto eu subia naquela manhã no jipe daquele homem que sorriu para mim e perguntou se eu precisava de ajuda com as malas, me senti seguro, mesmo não sabendo quem ele era.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

“Educação faz parte da nossa cultura”


“Educação faz parte da nossa cultura”, diz a diretora do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, Jaana Palojärvi.


São Paulo - “Educação faz parte da nossa cultura”, explica a diretora do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, Jaana Palojärvi. A diretora chega ao Brasil como representante de um dos sistemas educacionais mais reconhecidos do mundo, com alunos se destacando nas primeiras posições da principal avaliação internacional de estudantes, o Pisa.

Jaana veio ao Brasil com um discurso otimista: segundo ela, é possível revolucionar o ensino de um país em algumas décadas. Afinal, é isto que a Finlândia fez e continua fazendo desde 1970.

Há quarenta anos, o país reviu suas prioridades e revolucionou o sistema que, hoje, é exemplo mundial apontado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE ) e pela ONU, com o Índice de Educação Global, no qual a Finlândia integra o primeiro lugar.

No Seminário Internacional sobre o Sistema de Educação do país, que aconteceu nesta quinta-feira em São Paulo, a diretora do “MEC finlandês” reiterou a receita do sucesso educacional, conhecido pela liberdade e flexibilidade que concede a alunos e professores.

As lições de lá não necessariamente podem ser replicadas por aqui, por diferenças que vão de escala à cultura. Muitas questões, como as horas em salas de aulas ou o poder dado aos professores, dividem especialistas brasileiros. Mas nenhum educador ou agente público pode se dar ao luxo de ignorar o que um sistema de excelência faz.

Confira abaixo 10 visões da Finlândia de como se deve fazer educação pública:

1. A educação tem de ser igual e gratuita a todos

Jaana Palojärvi é veemente ao afirmar que as escolas na Finlândia oferecem a todos ensino de qualidade e gratuito. Por lá, apenas 2% das instituições de ensino são particulares, e mesmo estas são subsidiadas pelo governo. Além disso, a diretora defende que o padrão de ensino é o mesmo em todas as escolas finlandesas e, por isso, as crianças passam a frequentar a escola do bairro, que está mais próxima de onde elas vivem. Um princípio de igualdade que equaliza oportunidades.

2. “Mantenha as coisas simples”

Quando perguntada qual o principal conselho que ela teria para os educadores brasileiros, Jaana hesitou, mas definiu: “foco nos níveis mais locais”.

Na Finlândia, a educação fica ao encargo do município e, mais do que isso, do professor. É ele, após muito treinamento, que decide como passar o conteúdo. Cada escola é livre para criar seu próprio material de ensino. Para Jaana, isso faz toda a diferença, já que motiva os professores e incentiva novos modos de ensino, que acomodem as necessidades de cada criança.

“Tem de prestar atenção na realidade da sala de aula. É lá que a mudança acontece”, disse.

3. Valorização do professor

“O professor é a primeira pessoa na vida do aluno”, explica a diretora. Em seu país, eles podem não ter os maiores salários (ganham uma remuneração média em relação a outros setores), mas a carreira de professor é uma das mais populares. E por quê?

O professor na Finlândia é bem preparado. Ele precisa ser graduado e ter um mestrado. Passa ainda por treinamento específico para dar aulas e tem plano de carreira. Nesse contexto, faz sentido que ele tenha a palavra final dentro da sala de aula. Para o governo finlandês, isso faz toda a diferença, já que estimula o professor a inovar e torna a profissão mais inspiradora.

A diretora ressaltou, no entanto, a importância da educação obtida pelo próprio professor para que ele se torne autoridade máxima. "Nós demos o preparo e, agora, temos de confiar neles", explica. Esse quadro de preparo, oferta de oportunidade e consequente confiança nem sempre se repete no Brasil.

“Não é o dinheiro, eles não fazem pelo dinheiro”, explica Jaana. Na Finlândia, não existe bônus financeiro para professores com melhor desempenho. Aliás, tal estímulo financeiro, para eles, é inconcebível.

4. A quantidade de dinheiro não importa

Enquanto no Brasil há projetos propondo o aumento da verba do PIB destinada a gastos com ensino, na Finlândia o movimento foi contrário. Por lá, apenas 6% do PIB é dedicado à educação. E mesmo assim eles lideram as avaliações internacionais junto com a Coreia do Sul.

Jaana afirma que a questão não é a quantidade de dinheiro separada para alguma coisa, mas como você organiza o dinheiro que usa. Lá, há menos burocracia para se alterar a maneira como se gasta o dinheiro investido. Em poucos anos a máquina administrativa foi alterada para que o investimento, embora não o maior do planeta, estivesse entre os melhores em destinação.

5. A quantidade de horas de estudo não importa

A Finlândia não tem escolas de período integral – e os alunos não têm muita lição de casa. Segundo Jaana, “a qualidade do ensino existe na sala de aula, e isso se alcança com bons professores”. O sistema básico e obrigatório de educação também segue essa linha de raciocínio e só começa com a criança aos sete anos: “nós acreditamos que nossas crianças têm de ser crianças. Elas não têm de aprender a ler ou escrever antes dessa idade”, explica a diretora.

No Brasil, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, lançado pelo governo federal no ano passado, foi criticado por prever que as crianças estejam aptas a ler e efetuar operações matemáticas básicas já com oito anos.

6. Atenção aos alunos que podem apresentar mais dificuldades

Na Finlândia, o foco não está no aluno que vai melhor. Pelo contrário, os professores tentam identificar aqueles que podem ter problemas, para conseguir mantê-los no sistema.

7. Valorização das diferentes formas de aprendizagem

Existem crianças mais visuais, outras aprendem melhor com música, outras se podem usar das mãos para compreender um novo conceito. Na Finlândia, os modelos pedagógicos sustentam diferentes estilos de ensino, segundo a diretora. O foco não é tanto em conteúdo, mas em análise e apoio de diferente métodos.

8. Menos tecnologia, mais ensino

Ao contrário do que se pode imaginar, tecnologia não é supervalorizada na Finlândia. Segundo Jaana, os professores até usam novos recursos tecnológicos, mas eles não são tão importantes. “São só ferramentas, não são o conteúdo, que é a chave de tudo”, explica.

9. Nada de testes

Esqueça Enem, vestibular, Enade... Na Finlândia não há provas nacionais e cada professor está livre para avaliar seus alunos como bem entender. “Nós não acreditamos muito em testes, estamos mais interessados em aprender”, explica a diretora. Com professores menos empenhados em provas, eles passam seu tempo individualizando métodos de ensino ou criando novos.

10. Valorização das artes

Enquanto por aqui a preocupação maior é trazer mais meninas para as áreas das Exatas, lá é exatamente o contrário. As escolas finlandesas já têm aulas de artes e música no currículo básico, e a carga horária delas deve aumentar ainda mais, tentando atrair também a atenção dos meninos mais matemáticos das salas. "A cada dez anos, muda tudo em Física. Muda tudo em Química. Por isso o conteúdo não é tão importante, mas ter jovens criativos e comunicativos é essencial", opina Jaana.

O casamento dos loucos



O casamento dos loucos
Colunistas por Pedro Valls Feu Rosa
O casamento dos loucos

Alemão aluga mulher em troca de cerveja. Inglês põe esposa à venda. Mulheres matam por amor e ódio. Na Espanha, livro ensina a bater sem deixar marcas. É a insanidade dos casais em escala global


Aconteceu lá na China: uma mulher, suspeitando que seu marido a traía, passou para ele uma cápsula de veneno de rato durante um longo e aparentemente apaixonado beijo – um verdadeiro “beijo da morte”.

Naquele mesmo país, uma outra mulher constatou, ao ir dormir, que seu marido não havia lavado os pés antes de ir para a cama. Enfurecida e com medo de ser contaminada por alguma doença, ela adotou uma solução simples: matou-o ateando fogo nos lençóis.

Já uma mulher norte-americana foi menos feroz, porém mais irritante: ela chegou a ser presa por se encharcar de perfume, encher a casa de remédio para inseto e desinfetante e ainda queimar velas aromáticas – tudo para infernizar seu marido, que sofre de séria alergia a produtos químicos!

Vem também dos Estados Unidos o caso da velhinha que deu uma vigorosa surra no marido, quebrando-lhe até algumas costelas, por uma “pulada de cerca” cometida espantosos 35 anos antes – imagine-se a pavorosa cena de uma senhora de 78 anos espancando o marido de 84!

Evidentemente, não são apenas as mulheres a terem esse tipo de comportamento. Voltemos à China: a esposa de um torcedor fanático, que acompanhava um jogo pela televisão, caiu na besteira de reclamar quando este comemorou um gol do seu time. Acabou trancada dentro de um quarto, a fim de que o maridão pudesse ver o resto do jogo sossegado.

Um inglês, insatisfeito pelos mesmos motivos, foi mais radical: colocou a esposa à venda. Eis o anúncio, publicado no jornal Trade it: “Esposa reclamona. Sem taxas, sem inspeção. Manutenção muito elevada”. O curioso – e chocante – é que ele recebeu umas dez ligações de pessoas interessadas em comprá-la! A quem pensar que vender a esposa é o máximo do absurdo, segue o caso do alemão que a alugava para um vizinho a troco de cerveja – para ser mais exato, um engradado por dia!

Diante de casamentos tão conflituosos, um juiz da Arábia Saudita está defendendo a tese de que maridos têm o direito de “dar uns tabefes” nas esposas que gastam demais. Transcrevo as palavras dele: “Se uma pessoa dá $ 320 à sua esposa e ela gasta $ 240 comprando supérfluos em alguma loja, e se ele dá uns tabefes na cara dela, ela mereceu a punição”.

Seria esse tipo de atitude “coisa de país exótico”? Quem dera! Inglaterra, apresente-se: segundo uma recente pesquisa de opinião pública realizada naquele país, uma em cada sete pessoas acredita ser aceitável que um homem bata em sua namorada se ela estiver usando “roupas sensuais” em público. O mesmo percentual de entrevistados disse que “não há o menor problema em um homem bater na sua esposa se ela chateá-lo”.

O problema é que, em países reputados civilizados, surras podem resultar em processos judiciais. Para evitar isso, foi lançado na Espanha, há algum tempo, um livro que ensina os maridos a bater em suas esposas sem deixar marcas que os incriminem. Merece especial destaque o capítulo seis, no qual são indicadas as partes do corpo sobre as quais devem ser desferidos os golpes, e os instrumentos a serem utilizados – tudo, e transcrevo um trecho, “para não deixar hematomas ou cicatrizes, que são passíveis de denúncias penais”.

Diante de todos esses exemplos de loucura de pessoas que se dizem sãs, não consigo deixar de pensar em uma curiosa frase da jornalista Diléa Frate: “Os loucos são assim mesmo, nunca acham que estão doidos”.

20 livros fundamentais para conhecer o Brasil
O escritor Antônio Cândido (Foto: Divulgação)

“Antonio Cândido, sociólogo, crítico literário e ensaísta indica 20 livros fundamentais para conhecer o Brasil

Antonio Cândido, Teoria e Debate – com blog da boitempo / Pragmatismo Político

Quando nos pedem para indicar um número muito limitado de livros importantes para conhecer o Brasil, oscilamos entre dois extremos possíveis: de um lado, tentar uma lista dos melhores, os que no consenso geral se situam acima dos demais; de outro lado, indicar os que nos agradam e, por isso, dependem sobretudo do nosso arbítrio e das nossas limitações. Ficarei mais perto da segunda hipótese.

Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos.

Por isso, é sempre complicado propor listas reduzidas de leituras fundamentais. Na elaboração da que vou sugerir (a pedido) adotei um critério simples: já que é impossível enumerar todos os livros importantes no caso, e já que as avaliações variam muito, indicarei alguns que abordam pontos a meu ver fundamentais, segundo o meu limitado ângulo de visão. Imagino que esses pontos fundamentais correspondem à curiosidade de um jovem que pretende adquirir boa informação a fim de poder fazer reflexões pertinentes, mas sabendo que se trata de amostra e que, portanto, muita coisa boa fica de fora.

São fundamentais tópicos como os seguintes: os europeus que fundaram o Brasil; os povos que encontraram aqui; os escravos importados sobre os quais recaiu o peso maior do trabalho; o tipo de sociedade que se organizou nos séculos de formação; a natureza da independência que nos separou da metrópole; o funcionamento do regime estabelecido pela independência; o isolamento de muitas populações, geralmente mestiças; o funcionamento da oligarquia republicana; a natureza da burguesia que domina o país. É claro que estes tópicos não esgotam a matéria, e basta enunciar um deles para ver surgirem ao seu lado muitos outros. Mas penso que, tomados no conjunto, servem para dar uma ideia básica.

Entre parênteses: desobedeço o limite de dez obras que me foi proposto para incluir de contrabando mais uma, porque acho indispensável uma introdução geral, que não se concentre em nenhum dos tópicos enumerados acima, mas abranja em síntese todos eles, ou quase. E como introdução geral não vejo nenhum melhor do que O povo brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro, livro trepidante, cheio de ideias originais, que esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no subtítulo: “A formação e o sentido do Brasil”.
Quanto à caracterização do português, parece-me adequado o clássico Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, análise inspirada e profunda do que se poderia chamar a natureza do brasileiro e da sociedade brasileira a partir da herança portuguesa, indo desde o traçado das cidades e a atitude em face do trabalho até a organização política e o modo de ser. Nele, temos um estudo de transfusão social e cultural, mostrando como o colonizador esteve presente em nosso destino e não esquecendo a transformação que fez do Brasil contemporâneo uma realidade não mais luso-brasileira, mas, como diz ele, “americana”.

Em relação às populações autóctones, ponho de lado qualquer clássico para indicar uma obra recente que me parece exemplar como concepção e execução: História dos índios do Brasil (1992), organizada por Manuela Carneiro da Cunha e redigida por numerosos especialistas, que nos iniciam no passado remoto por meio da arqueologia, discriminam os grupos linguísticos, mostram o índio ao longo da sua história e em nossos dias, resultando uma introdução sólida e abrangente.

Seria bom se houvesse obra semelhante sobre o negro, e espero que ela apareça quanto antes. Os estudos específicos sobre ele começaram pela etnografia e o folclore, o que é importante, mas limitado. Surgiram depois estudos de valor sobre a escravidão e seus vários aspectos, e só mais recentemente se vem destacando algo essencial: o estudo do negro como agente ativo do processo histórico, inclusive do ângulo da resistência e da rebeldia, ignorado quase sempre pela historiografia tradicional. Nesse tópico resisto à tentação de indicar o clássico O abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco, e deixo de lado alguns estudos contemporâneos, para ficar com a síntese penetrante e clara de Kátia de Queirós Mattoso, Ser escravo no Brasil (1982), publicado originariamente em francês. Feito para público estrangeiro, é uma excelente visão geral desprovida de aparato erudito, que começa pela raiz africana, passa à escravização e ao tráfico para terminar pelas reações do escravo, desde as tentativas de alforria até a fuga e a rebelião. Naturalmente valeria a pena acrescentar estudos mais especializados, como A escravidão africana no Brasil (1949), de Maurício Goulart ou A integração do negro na sociedade de classes (1964), de Florestan Fernandes, que estuda em profundidade a exclusão social e econômica do antigo escravo depois da Abolição, o que constitui um dos maiores dramas da história brasileira e um fator permanente de desequilíbrio em nossa sociedade.”

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Uma Palestina portuguesa


Uma Palestina portuguesa
Adam Rovner *
22.Mai.13 :: Outros autores

Este ano marca o centenário de um esforço esquecido para construir uma pátria judaica na vasta colónia portuguesa de Angola. Adam Rovner descreve esta tentativa pouco conhecida de criar uma Sião em África.

No Outono de 1902, o Dr. Theodor Herzl (1860-1904), autor austro-húngaro e profeta do moderno sionismo político, frequentava os corredores do poder em Whitehall. Graças, em parte, aos esforços do seu amigo, o autor inglês judeu Israel Zangwill (1864-1926), Herzl conheceu o secretário de estado para as colónias Joseph Chamberlain, que mostrou simpatia pelas aspirações nacionalistas dos judeus. Em Abril de 1903 os dois voltaram a encontrar-se depois de Chamberlain ter regressado duma visita às colónias britânicas em África, semanas depois dos ataques, apoiados pelo estado, contra judeus na Rússia czarista terem chocado o mundo. Chamberlain fixou Herzl no seu monóculo e ofereceu-se para ajudar os perseguidos. ‘Encontrei uma terra para si nas minhas viagens’, Herzl ouviu-o dizer, registando o relato da sua viagem de combóio no país que é hoje o Quénia, ‘e pensei para comigo, esta seria uma terra para o Dr. Herzl’. Embora Herzl tenha inicialmente encarado com frieza a proposta, reconheceu a sua importância. A nação mais poderosa do mundo reconhecera a organização sionista com seis anos de existência enquanto instrumento do nacionalismo judaico e oferecia uma terra sob protecção do Império Britânico.
O delegado de Herzl em Londres continuou a negociar com Chamberlain no que, erradamente, veio a chamar-se ‘Plano do Uganda’. Em meados desse Verão tinham chegado a acordo quanto a um esboço de mapa para uma colónia autónoma no protectorado da África Oriental. O advogado e Membro do Parlamento David Lloyd George elaborou o documento. Herzl anunciou a proposta na abertura do VI Congresso Sionista em Basileia a 23 de Agosto de 1903. De acordo com o relatório estenográfico do Congresso, a notícia foi recebida com ruidoso aplauso e Zangwill anunciou de forma triunfante: ‘Três vivas à Inglaterra’. Um apoiante reconheceu que o Vale do Rift começava na África Oriental e acabava na Palestina, ligando assim a pátria bíblica, ainda que de forma ténue, ao território britânico oferecido. Mas Herzl admitiu num discurso ao Congresso que a planeada ‘Nova Palestina’ em África não poderia substituir Sião. Ainda assim, considerou urgente uma exploração do território.
Uma comissão sionista constituída por três membros rumou a África em Dezembro de 1904. Herzl já não viu a expedição partir. Sofrera um ataque cardíaco fatal cinco meses antes. Quando a comissão regressou, os seus membros publicaram um relatório globalmente negativo sobre as possibilidades de estabelecer uma colónia no planalto de Guas Ngishu no Quénia ocidental. O VII Congresso reuniu em Basileia em 1905 para discutir as conclusões pessimistas. Zangwill ainda defendia a aceitação de uma suserania britânica sobre um território judaico na África oriental, mas, sem a liderança de Herzl, a maioria dos delegados opunha-se agora. Numa tensa sessão de emergência, Zangwill e os seus aliados não conseguiram reunir os votos necessários para dar continuidade ao plano. ‘Se declinarmos o projecto da África oriental’, avisou Zangwill, ‘iremos experimentar o alívio que se tem quando se remove um dente que nos dói. Mas iremos reparar, tarde demais, que era o nosso último dente!’
Amargurado, Zangwill separou-se do que considerava ser um sionismo desdentado. Constituiu um grupo rival popular internacional, a Organização Territorial Judaica, conhecida pelo seu acrónimo ITO. O patriota Zangwill acreditava que o movimento sionista havia desprezado o Governo de Sua Majestade e rejeitara a visão universalista de Herzl do nacionalismo judaico. Também estava convencido de que os habitantes árabes da Palestina Otomana constituíam um grande obstáculo à recolonização das ancestrais terras judaicas. Em vez disso, a plataforma ITO propunha o estabelecimento de uma ‘grande pátria de refúgio judaica’ noutro lugar do mundo, de preferência sob administração britânica. Zangwill referia-se a estado de fantasia em papel como ‘Terra ITO.’ Continuou a procurar uma terra ITO na África oriental, mas também considerou a Austrália, Líbia e Mesopotâmia (Iraque).
Em 1907, a agitação incansável pela causa da ITO chamou a atenção de um engenheiro e veterano da Guerra dos Bóeres, John Norton-Griffiths (1871-1930), conhecido popularmente como ‘Empire Jack’ pela sua visão ultra-imperialista. Norton-Griffiths firmou um contracto para a construção de uma linha férrea que se estenderia do porto angolano de Lobito até às terras altas do planalto de Benguela, em direcção ao Leste, até ao ponto desolador do que os portugueses chamaram ‘o fim do mundo’, e depois em direcção a Norte, através dos campos ricos em cobre. Norton-Griffiths notificou os representantes da ITO de que os portugueses em Angola punham as necessidades dos ‘colonos brancos’ em primeiro lugar e ele estava certo de que a ‘melhor’ e ‘mais apropriada’ parte de ‘toda a África’ para uma colónia judaica era Angola. Mas Zangwill rejeitou a ideia, receando que os ‘quatro milhões de negros’ que se estimava aqui viverem ‘impedissem qualquer verdadeira colonização, fazendo todo o trabalho sujo’. Para Zangwill, a colonização agrícola e industrial, fosse na Palestina, em Angola ou em qualquer outra parte, deveria ser orientada para a auto-suficiência, não para a exploração.
Sem nenhuma terra ITO no horizonte, Zangwill começou a trabalhar com um banqueiro norte-americano, Jacob Schiff, num plano ambicioso para restabelecer os judeus russos na parte ocidental dos EUA. Entre 1907 e 1914, aproximadamente 7 400 imigrantes partiram de facto a caminho do Ocidente, por Galveston, Texas. Entretanto, Zangwill obtivera enorme sucesso nos EUA com a sua peça The Melting Pot (1908), que popularizou a metáfora da cultura multi-étnica dos EUA. Zangwill declarou no posfácio a edições da sua peça que a sua composição fora inspirada pelas suas tentativas frustradas de encontrar uma terra ITO. Então, depois de anos de desilusão, a ITO recebeu uma carta, em Março de 1912, escrita em francês por um judeu russo que trabalhava para o ministro da agricultura português. O correspondente desconhecido, Wolf Terló, delineou o seu plano para estabelecer ‘os nossos pobres irmãos [judeus]’ nas saudáveis terras altas de Angola, onde cada família de colonos receberia, livre de impostos, 500 hectares (aproximadamente 5 Km2) de terra. Terló afirmava que a sua proposta tinha o apoio de parlamentares e ministros do governo em posições chave na jovem República Portuguesa, com tendências de esquerda.
Depois de uma troca de correspondência, a ITO enviou uma delegação a Lisboa chefiada pelo jurista russo Jacob Teilel. Homem de muitas contradições, o brilhante Teilel era o último juiz judeu sob o governo czarista, sendo no entanto amigo de radicais políticos como Vladimir Lenine e Máximo Gorky. O filho de Teitel conhecera Terló em Roma e descobrira que as suas famílias eram remotamente ligadas. Terló convidou então o seu ilustre parente para vir a Lisboa. Quando os apoiantes da ITO souberam das futuras viagens à Europa de Teitel, pediram-lhe que avaliasse o misterioso carácter de Terló e a seriedade da sua proposta. Na altura, Terló era um anafado funcionário público que rondava os 40 anos. Depois de os judeus terem sido expulsos de Moscovo em 1891, Terló viajara até Jafa e matriculara-se numa escola agrícola. Mais tarde, estudou vinicultura em Bordéus e depois de muito vaguear, fixou-se em Lisboa em 1904. Aí organizou um conselho enológico e encontrou emprego no Ministério da Agricultura. A sinceridade de Terló no trabalho para minorar o sofrimento dos judeus russos era apenas igualada pela sua confusão em relação aos objectivos conflituosos do sionismo e dos apoiantes da ITO. Terló abordara a Agência Central Sionista em Berlim relativamente à sua ideia sobre Angola. Reconheceram o significado da vontade de Portugal ceder território para a imigração em massa de judeus, mas recusaram as propostas de Terló. Ainda assim, os sionistas de Berlim corresponderam-se com Terló até 1912, continuando a pressioná-lo para obter informação interna quanto aos desígnios da ITO para a colónia.
Em Lisboa, Teitel encontrou, em casa de Terló, um grande mapa de Angola pendurado na parede. Também aí conheceu o colega de Terló na proposta, o Dr. Alfredo Bensaúde (1856-1941). Bensaúde era um cientista de craveira, fundador e director do Instituto Superior Técnico e herdeiro de uma família judia dos Açores. O enérgico Terló e o influente Bensaúde conseguiram empurrar um conjunto de políticos portugueses para a causa do estabelecimento de uma colónia judaica em Angola. Rapidamente se seguiu uma cobertura jornalística favorável. Em Maio, representantes da câmara baixa do parlamento português, a câmara dos deputados, debateram activamente a ideia. Teitel examinou o plano de Terló e Bensaúde e chegou à conclusão que ‘cinco ou seis centenas de milhares’ de judeus poderiam colonizar as terras altas da província angolana de Benguela. ‘Eu ficaria feliz’, disse aos jornalistas, ‘se os últimos anos da minha vida fossem dedicados a esta causa’.
Assim encorajado, Zangwill conseguiu duas longas entrevistas com Sir Arthur Hardinge, ministro britânico em Portugal. Por coincidência, Hardinge servira como comissário no protectorado da África oriental pouco antes de Chamberlain aí ter oferecido território aos sionistas. Ele já conhecia bem os esforços gorados de uma colonização judaica em África e estava céptico em relação aos planos da ITO. Hardinge relatou ao seu superior, o Secretário dos Estrangeiros Sir Edward Grey (1862-1933) que ficara ‘surpreendido que a ideia pudesse ser recuperada … mas as discussões prévias mostraram que Mr. Zingwill e os seus amigos não eram de modo algum pessoas práticas.’ Num dado momento, Zangwill questionou Hardinge sobre os ‘negócios secretos anglo-germânicos … a respeito das colónias portuguesas em África’, mas o diplomata rapidamente ‘dirigiu a conversa para outros assuntos’. Zangwill aludia a um acordo secreto de 1898 para dividir as colónias portuguesas entre a Inglaterra e a Alemanha. As duas potências procuraram uma reconciliação nos anos anteriores à I Guerra Mundial e os seus esforços centraram-se numa renegociação com benefício mútuo do acordo de 1898. Zangwill argumentou que Portugal, endividado e instável depois da queda da monarquia em 1910, procurava manter Angola com a ajuda dos colonos judaicos que protegeriam a integridade da colónia para a metrópole. No entanto, receava que, caso o domínio português fosse derrubado, a sua terra ITO cairia nas mãos dos alemães nos termos das convenções secretas então debatidas. O sonho de Zangwill de uma Sião africana trazia tanto perigo como esperança.
A 20 de Julho de 1912, a Câmara dos Deputados portuguesa aprovou a versão final da Lei 159 que autorizava concessões a colonos judaicos. Os seus artigos indicam claramente a intenção da República de usar a imigração judaica para consolidar o domínio sobre Angola. Os colonos que quisessem estabelecer-se no planalto de Benguela tornar-se-iam imediatamente cidadãos portugueses no porto de entrada mediante pagamento de um valor nominal. Enquanto este aspecto da lei teria apelado a refugiados judeus em condições de pobreza, outros artigos parecem designados a desencorajar a emigração. Nenhuma ‘sociedade benevolente’ encarregada da colonização (como a ITO) poderia ter um ‘carácter religioso’ e o português deveria ser a língua exclusiva da instrução em quaisquer escolas que os colonos judeus construissem.
Zangwill e os delegados da ITA reuniram-se em Viena para discutir as concessões portuguesas. Eles sabiam que as cláusulas restritivas da lei impediriam o estabelecimento de uma colónia exclusivamente judaica. Depois de muita discussão, a ITO enviou por cabo a sua respeitosa rejeição da oferta para a Câmara dos Deputados, mantendo entretanto a possibilidade de continuação das negociações. Quando Hardinge soube da decisão da ITO, relatou a Grey que ‘a não ser que o governo português (o que é pouco provável) atribuísse grandes poderes políticos à nova colónia judaica, Mr. Zangwill e os seus amigos não crêem que a oferta valha a pena’. Mas Hardinge não mencionou, ou não sabia, que a ITO tinha votado unanimemente o envio de uma expedição a Angola para examinar a região proposta para colonização judaica.
Zangwill contratou um dos mais distintos cientistas-exploradores do seu tempo, John Walter Gregory (1864-1932) para levar a comissão da ITO ao planalto de Benguela. Gregory, geólogo e fellow da Royal Society, cunhara o termo ‘Rift Valley’ e viajara pela Líbia em 1908 em representação da ITO. Embora não fosse judeu, Gregory estivera associado com a ITO desde a sua fundação. A sua mulher e a mulher de Zangwill, a sufragista Edith Ayrton (1875-1945), eram primas com uma relação próxima e, assim, foi confiado a Gregory analisar a terra ITO proposta em Angola. Gregory incluiu na expedição o seu amigo, Dr. Charles J. Martin, chefe do Instituto Lister para a Medicina Preventiva em Londres. Na noite de 16 de Julho de 1912, Gregory formalizou o seu acordo com Zangwill e na manhã seguinte escreveu a um contacto no Colonial Office para perguntar: “(1) se há quaisquer considerações políticas que impeçam o estabelecimento de uma colónia judaica nos planaltos angolanos. (2) Se há alguma área que devamos evitar ou que devamos escolher por ser mais segura”.
A carta de Gregory foi reencaminhada para o Foreign Office, onde ele encontrou um secretário-adjunto e lhe deu uma descrição dos planos da ITA para ‘formar uma larga colónia de judeus que poderiam viver juntos e preservar os seus ritos religiosos e sociais em liberdade’. Gregory pediu cartas de apresentação para Hardinge em Lisboa e para os funcionários do Consulado Britânico em Angola. Em troca, ofereceu-se para ‘manter qualquer informação que pudesse ser útil’ ao Governo Britânico durante as suas viagens à colónia. Mas Grey indeferiu o pedido, indicando que o plano para Angola era estritamente um assunto interno para o Governo Português.
O Foreign Office estava compreensivelmente relutante a envolver o governo de Sua Majestade em assuntos coloniais portugueses. Enquanto a ITO concentrava os seus esforços em Angola, o Foreign Office envolveu-se numa disputa pública com a British Anti-Slavery Society, que acusava o facto de os angolanos serem sujeitos a trabalhos forçados que equivaliam a escravatura. Estes trabalhadores forçados (serviçais) labutavam sob condições miseráveis em plantações de cacau na ilha de São Tomé no Golfo da Guiné. As autoridades britânicas estavam ao corrente dos abusos e da incapacidade por parte de Portugal em pôr-lhes cobro, mas uma série de livros, panfletos e revelações deram a conhecer a desgraça dos serviçais ao público e criaram um escândalo diplomático. Zangwill conhecia o registo vergonhoso de Portugal no que respeitava a escravatura e prometeu a um confidente da ITO preocupado com o assunto que ‘se formos [para Angola] deveremos esperar evitar estas condições’. Também escreveu a Bensaúde para dizer que uma iniciativa bem-sucedida da ITO ajudaria a dissipar a publicidade negativa que Portugal recebeu na imprensa britânica. Zangwill deve ter esperado que um apelo ao patriotismo de Bensaúde providenciasse o momento de submeter uma versão mais atraente da Lei 159 para aprovação parlamentar. Desta vez Zangwill apoiava-se em Bensaúde como seu negociador, receando que o apoio declarado e público de Terló ao plano prejudicasse a causa da ITO.
Os próprios angolanos estavam bem cientes dos planos para trazer os judeus ao seu território. Na capital costeira Benguela, com a sua imponente arquitectura portuguesa e avenidas largas com eucaliptos alinhados, vivia uma elite que receberia de bom grado a perspectiva de judeus a povoar a província. Uma série de artigos da autoria do escritor mais destacado da época, Augusto Bastos (1872-1936), um filho da terra, foi publicada no semanário Jornal de Benguela durante mais de um ano. Ele garantiu aos leitores que os colonos judeus não ameaçariam a soberania portuguesa porque não teriam ‘canhões e um exército por trás deles’. Depois insistiu junto dos legisladores portugueses para que alterassem os termos da lei colonial para que se tornasse mais apelativa para os judeus. Bastos saudou a chegada de Gregory e Martin, acreditando que ‘depressa estariam convencidos’ de que não havia melhor lugar do que o planalto de Benguela para estabelecer uma morada para os ‘[judeus] perseguidos da Rússia’.
Logo depois de Gregory e Martin terem chegado a Lobito, o fim da linha férrea de Benguela, a 22 de Agosto de 1912, rumaram até ao interior. A sua caravana consistia de 32 nativos, um chefe, um campista e mais quatro ajudantes. Ao todo, passaram cinco semanas a inspeccionar o planalto, viajando mais de 1 600 km de combóio, vagão e a pé. Gregory anotou no seu relatório publicado da ITO que laranjas, bananas e café floresciam e que ‘verduras europeias cresciam abundantemente’. Também encontrou ‘madeira em quantidade para a construção’ e para combustível. O Dr. Martin considerou as terras altas ‘notavelmente livres de doenças tropicais’ e que possuíam ‘um óptimo clima’ no qual o ‘europeu médio’ poderia manter uma ‘vida confortável e saudável’. Sobre o planalto de Benguela, Gregory concluiu:
“Em virtude de ser uma terra salubre, fértil e atractiva, e à facilidade com que poderá ser adquirida e desenvolvida, não parece haver razão, caso o Governo Português garanta uma concessão razoável, para não estabelecer colónias europeias com sucesso.”
O relatório de Gregory era intencionalmente vago quanto à região exacta que deveria ser colonizada. Mas num memorando ‘altamente confidencial’ escrito a bordo, enquanto viajava para Inglaterra logo após ter regressado da sua aventura angolana, ele recomendava que Zangwill pedisse aos portugueses 13 000 km2 de terra que incluíssem a cidade de Bailundo e o vale do rio Cutato a nordeste de Huambo. Hoje, a região que Gregory secretamente escolheu para pátria judaica é o celeiro de Angola, apesar dos campos de minas e os destroços de tanques que ainda mancham uma paisagem deformada por décadas de guerra civil.
Zangwill encontrou Gregory e Martin a 22 de Outubro de 1912, cinco dias depois de terem desembarcado em Southampton. Uma vez convicto da exequibilidade de fundar uma terra ITO angolana, escreveu ao proeminente banqueiro e líder da comunidade judaica Leopold de Rothchild. Zangwill avançou a ideia de estabelecer uma companhia de desenvolvimento de Angola que, defendia, atrairia o dobro do capital da ‘[Cecil] Rhodes, que impulsionou a Rodésia’. Também sugeriu que a ITO, com a ajuda de Rothchild, poderia trazer uma reaproximação há muito desejada entre a Inglaterra e a Alemanha. Um dos comissários geográficos da ITO, o homem de negócios e patrono das artes James Simon, era íntimo do Kaiser, disse Zangwill a Rothchild: ‘E parece que assim ficaremos com um instrumento nas mãos … para aproximar a Inglaterra e a Alemanha’. Uma pátria judaica em África, acreditava Zangwill, poderia servir a causa da paz na Europa. Rothchild, contudo, não ficou impressionado.
Bensaúde, Zangwill e Gregory continuaram no entanto a promover o plano e, a 29 de Junho de 1913, o Senado português reviu e aprovou concessões para o estabelecimento de judeus. Gregory disse com optimismo aos repórteres que a linha férrea de Benguela acabaria por fazer a ligação com a linha projectada Cidade do Cabo / Cairo e assim ‘ligar Angola à Europa’. Zangwill insistiu com a imprensa que Angola representava a melhor oportunidade para atingir as ambições de Herzl de um estado judaico ‘porque [Angola] não tem influência cristã, como a Palestina, nem uma população árabe como a Palestina’. Quanto a Bensaúde, manteve a pressão sobre os seus contactos internos no governo, dando a entender a Zangwill que o ‘governo [português] está disposto a passar por cima do parlamento e fazer uma concessão de acordo com a perspectiva do Professor Gregory, desde que [a ITO] tenha o capital adequado’. Mas o dinheiro não foi adiantado. Bensaúde lamentou ‘infinitamente que as sociedades que se dedicam a este problema não possam ou não queiram conduzir este caso como ele deveria ser conduzido’. Também Zangwill estava perturbado com a falta de visão dos homens de finanças judeus que recusaram criar uma empresa para desenvolvimento da terra que ‘pudesse dar a milhares, eventualmente a milhões de judeus um lar’. Sem território, a ITO não poderia obter capital e sem capital não poderia obter um território. O ímpeto esmoreceu por falta de finanças e o necessário voto final no plano de colonização por parte de ambas as câmaras de Portugal nunca se materializou.
Por finais de 1913, muitos dos simpatizantes de Zangwill na ITO tinham-se voltado contra a proposta. Um antigo aliado escreveu-lhe dizendo que ‘a futura nação judaica será mais provavelmente um sucessor condigno da terra que produziu a Lei e os Profetas se for … na Palestina, do que se surgir num cadinho cultural em Angola’. A perspicaz referência à famosa peça de Zangwill [1] está ao nível da ironia do seu autor, embora seja duvidoso que ele a tenha apreciado. Zangwill viu a rejeição de Angola pelos milionários judeus e colegas na ITO como um ‘erro não menos trágico’ que a recusa da terra na África oriental, aproximadamente uma década antes. ‘Ela mostra’, concluiu num ressentido memorando à ITO, ‘que os judeus preferem estar sem terra e sem poder’. O contacto com Bensaúde arrastou-se até ao Verão de 1914, antes de rebentar a I Guerra Mundial. No mesmo dia em que as primeiras nuvens de gás tóxico foram emitidas sobre os aliados, a 22 de Abril de 1915, um desmoralizado Zangwill confidenciou a Gregory que a ITO chegara efectivamente ao fim: ‘Não posso fingir que reste muita esperança numa terra da ITO num mundo privado da Razão e do Amor’.
O plano angolano fora a última e melhor oportunidade da ITO para estabelecer uma solução territorial para a condição sem pátria dos judeus. E Zangwill nunca o esqueceu, mesmo depois da Declaração de Balfour, emitida durante o mandato de Lloyd George, ter sublinhado o apoio para ‘o estabelecimento na Palestina de uma pátria para o povo judeu’. Zangwill resumiu os erros da ITO nas páginas da influente Fortnightly Review, dois anos mais tarde. A história judaica, concluiu, ‘é uma história de oportunidades perdidas’. Vivesse Zangwill tempo suficiente para ver as nações livre do mundo fechar as suas portas aos judeus que fugiam ao Reich de Hitler e o seu severo veredicto teria certamente sido temperado com uma dor profunda pelo facto da sua Sião Angolana nunca ter firmado raízes no fértil planalto de Benguela.

*Publicado na History Today, vol. 62, nº 12, 2012
Adam Rovner é Professor Assistente de Literatura Inglesa e Judaica na Universidade de Denver. É autor de Promised Lands: The Global Search for a Jewish Home (New York University Press), no prelo.

Notas da tradução:
[1] “Cadinho cultural”, no original ‘Melting Pot’, alusão à obra de Zangwill, referida em parágrafo anterior.

Tradução de André Rodrigues P. da Silva

terça-feira, 21 de maio de 2013

A Gládio está presente*


A Gládio está presente*
Jorge Cadima
17.Mai.13 :: Colaboradores

Jorge CadimaO braço terrorista secreto da NATO voltou a ser mencionado. Mas para a generalidade dos media a questão passa em silêncio. Um silêncio eloquente.

Nos anos 80 o Luxemburgo foi palco duma vintena de atentados bombistas. Volvidos quase 30 anos, dois polícias estão a ser julgados nesse país, acusados pelos atentados. Mas a mais escaldante informação é alvo de férrea censura mediática, apenas furada pelo jornalista Rafael Poch do catalão La Vanguardia. Em artigo (13.4.13) de título «A NATO tropeça de novo com o seu passado terrorista», Poch conta que um historiador alemão, Andreas Kramer, declarou em tribunal que «o autor de 18 dessas 20 bombas foi seu pai, um agente dos serviços secretos alemães, BND, queagia por conta duma estrutura secreta da NATO. […] É assim que a conspiração Gládio, relativamente bem conhecida em países como a Itália e Bélgica, desponta agora no Luxemburgo». No enredo estaria ainda envolvido «o ex-chefe dos serviços secretos do Luxemburgo». Segundo Kramer, o seu pai também«participou no atentado bombista mais grave da história alemã do pós-guerra, a 26 deSetembro de 1980 na Oktober Fest, a festa da cerveja de Munique, que deixou um saldo de 13 mortos e 213 feridos e que foi inverosivelmente atribuído à acção de um único neo-nazi, morto na explosão». Kramer declarou que «os atentados eram coordenados pelo “Comité Clandestino Aliado”, sob a direcção do General alemão Leopold Chalupa […] comandante em chefe das tropas da NATO na Europa Central (CINCENT) entre 1983 e 1987». Chamados a depor no julgamento estão «o primeiro-ministro luxemburguês Jean-Claude Juncker, o ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia Jacques Santer», um ex-ministro da Justiça e dois irmãos do Grão-Duque do Luxemburgo. Mas, como escreve Rafael Poch (27.4.13), passadas duas semanas «nenhum juiz alemão se interessou pelo assunto,nem chamou Kramer a depor. Ninguém o acusou de mentir, nem de ser um charlatão. Nenhum meio de comunicação importante se fez eco [das suas palavras]. Silêncio”. É assim o «quarto poder» na «aldeia global» das «democracias ocidentais». À pergunta de como é que o seu pai justificava a «loucura», Kramer responde: «Tratava-se de tirar os comunistas do caminho […] Apenas se queria governos de direita, para ter um baluarte contra o comunismo […].Acreditava-se que os comunistas tinham demasiada influência». O objectivo era «criar medo e fortalecer a segurança interna. Para isso havia que encenar terrorismo. E quem fez isso foram oficiais em contacto com os Estados Unidos». Um ministro do ex-chanceler alemão Helmut Schmidt, Andreas von Bülow, igualmente entrevistado pelo La Vanguardia (5.5.13) declara «quando se trata da Gládio, e é disso que se trata neste caso, como seguramente o foi no caso da RAF (o bando Baader-Meinhof, o principal grupo terrorista alemão), cala-se a imprensa em nome da razão de Estado […]. Vimo-lo no 11 de Setembro, quando se evitaram as perguntas críticas». Palavra de ex-ministro alemão!
As confissões sobre o terrorismo da NATO e dos serviços secretos imperialistas lançam luz sobre o presente. Há dias, dois atentados terroristas com carros armadilhados mataram dezenas de pessoas na cidade turca de Reyhanli. A Turquia, país membro da NATO, é a principal base dos bandos terroristas que já cometeram idênticos atentados em várias cidades sírias. Mas as autoridades turcas apressaram-se a culpar o «regime sírio» pelos atentados. Hoje mesmo o primeiro-ministro Erdogan estará na Casa Branca a pedir uma maior intervenção dos EUA na guerra. E a comunicação social de regime nunca referirá que Antioquia, capital da província de Reyhanli, fora dias antes palco duma manifestação de milhares de pessoas pela paz e contra o envolvimento turco na agressão à Síria, organizada pelo movimento da Paz e com grande participação dos comunistas turcos.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2059, 16.05.2013

A crise do capitalismo


A crise do capitalismo

A crise do capitalismo não é novidade pra ninguém. Na Alemanha, economia dominante do capitalismo europeu, a esperança de vida para os mais pobres caiu, de 77,5 anos em 2001, para 74,1 em 2011. A agência alemã Destatis mediu o aumento da precariedade e das formas que ela recobre: entre 1999 e 2009, todas as formas atípicas de trabalho aumentaram, no mínimo, 20%. Os dois grupos mais atingidos são as famílias monoparentais (com mulheres como chefe-de-família) e os velhos. O governo recorreu massivamente ao desemprego parcial, que permite que as empresas paguem apenas 60% da remuneração normal aos assalariados e fiquem dispensadas de pagar metade das contribuições sociais. Professor Lazzarato: «A Alemanha é o primeiro país europeu a seguir os EUA na via do progresso liberal. Mais duas décadas de esforços para “salvar o regime de aposentadorias” e a morte coincidirá exatamente com a idade da aposentadoria. Mantidas as demais condições, na antiga Alemanha Ocidental, a expectativa de vida logo chegará aos 66 anos, e a morte chegará bem a tempo de tornar desnecessária a aposentadoria. Mors tua, vita mea (tua morte é minha vida): a economia está “saudável”, as agências de risco dão-lhe boas notas, os credores vão bem de saúde e a expectativa de vida dos mais ricos não para de aumentar.» ---- Professor Motta Lima: «Nada mais perverso na política do que a colocação de particulares interesses partidários acima daqueles que convêm à nação como um todo. Isso acontece em quase todos os lugares do mundo e revela o grau de comprometimento social de cada segmento que atua politicamente.» Esse trecho do Rodolpho é bom e sincero como um copo d'agua pura e fresca de moringa, ao contrário da ''circularidade situacional'' sugerida pelo leitor vitorcrdias que serve para confundir o cidadão menos atento: tudo deve parecer imóvel. Reparem o cinismo do ''culpe a si mesmo'', pura superstição politica pra surtir efeito desmoralizante numa multidão atomizada, impossibilitada de adquirir espírito crítico pra agir coletivamente e superar (se possível pacificamente) um sistema elitista: No top, a classe dominante, plenamente consciente de si mesma, zelosa em manter o seu estatuto, sua opulência privada. No plano inferior, a classe do meio: macaqueia rituais, modo de vestir, de falar; imita o egoismo e a crueldade com tudo e com todos. Em troca dessa ''vizinhança privilegiada'' cumprem—com vitalidade ferina—a única função para a qual foram servem: fornecer a base ideológica para a salvaguarda daquele estatuto e daquela opulência de burgueses que não querem mais saber de respeitar coisa alguma nem mesmo entre si. Uma classe social que o insuspeitável Adam Smith olhava de esguelha «colhem toda e qualquer ocasião para conspirar em detrimento do público.»

''Estadão'': 01 de janeiro de 2009
«Estado garante educação até o nível superior e fornece amplo sistema da saúde. (…) O regime de Fidel Castro desenvolveu um gigantesco sistema nacional de cobertura a todos os cidadãos, sem exceções de nenhum tipo. O sistema de saúde de Cuba é composto por quatro níveis: o médico de família, que costuma viver a poucas quadras de seus pacientes; o clínico geral de bairro; os hospitais de zona e os institutos especializados. Todo atendimento é gratuito, com exceção dos medicamentos, que são subsidiados pelo Estado. Nenhuma doença fica de fora do sistema de saúde cubano, que oferece tratamentos a problemas que vão desde simples dores de cabeça a enfermidades relacionadas à Aids, passando por assistência odontológica e até mesmo cirurgias plásticas. O resultado deste sistema de saúde tão amplo pode ser observado quando se comparam as estatísticas das Nações Unidas sobre esperança de vida. Cuba ocupa o terceiro lugar em todo continente americano, com expectativa de vida de 76 anos para os homens e 80 para mulheres. Já em relação à mortalidade infantil, as estatísticas da ONU apontam que o índice de Cuba é de cinco mortes a cada 1.000 nascimentos, o que situa o país em um nível só comparável ao do Canadá no continente americano».
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional, saude-e-educacao-sao-os-principais-exitos-do-regime-cubano,301270,0.htm

ICIA na América Latina - Carta Maior


DEBATE ABERTO
ICIA na América Latina

ICIA é uma sigla que poderia sintetizar a atual ofensiva dos setores mais conservadores da sociedade sul-americana. Condensaria as bandeiras de “luta” da classe alta, historicamente privilegiadas, contra os avanços progressistas e democratizantes na região (Inflação, Corrupção, Insegurança e Autoritarismo).

Luciano Wexell Severo


ICIA é uma sigla que poderia sintetizar a atual ofensiva dos setores mais conservadores da sociedade sul-americana. Condensaria as bandeiras de “luta” da classe alta, historicamente privilegiadas, contra os avanços progressistas e democratizantes promovidos principalmente pelos governos de Cristina Kirchner, Evo Morales, Rafael Correa e Hugo Chávez (agora Nicolás Maduro).

As bandeirinhas da ICIA (“inflação”, “corrupção”, “insegurança” e “autoritarismo”) formam o quadrado reacionário, oligárquico e até mesmo fascista que orienta os discursos e as ações de uma parcela das oposições da região. Chama a atenção que o grau de “sensibilidade” destas quatro variáveis tem uma forte relação com dois agentes principais: 1) os grandes conglomerados industriais, financeiros e comerciais, controlados exatamente pela classe alta e pelo capital estrangeiro, e 2) os meios de comunicação hegemônicos, que também estão sob o controle das elites locais e das transnacionais do setor.

Note-se que cada um destes dois agentes influi de maneira decisiva para a maior ou menor “gravidade” dos quatro problemas. Os primeiros, os grupos econômicos, na medida em que controlam grandes faixas de mercado, desempenham um papel crucial na determinação do preço final dos produtos. Além disso, por meio do açambarcamento e da especulação, podem gerar o desaparecimento, a escassez e o consequente aumento de preços. Essa foi a “receita para o caos”, que ajudou a derrubar o governo de Salvador Allende, no Chile, em 1973. A falta de produtos nas prateleiras dos supermercados e o encarecimento de bens básicos, tais como leite, açúcar, arroz e farinha, promoveram a insatisfação social e reduziram a popularidade do governo. É o que está se tramando, em diferentes graus, em países como Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina.

Por outro lado, e de forma complementar, esses mesmos elementos desestabilizadores resistem aos controles públicos que tentam atuar contra suas posturas criminosas. Os grandes conglomerados acusam governos intervencionistas de “autoritários”, de seguidores de Adolf Hitler e Benito Mussolini. Arremetem contra a ação do Estado sobre as altas taxas de lucro, as taxas de juros, as taxas de câmbio, o acesso a dólares e a melhora das condições de vida dos trabalhadores. Seu argumento central é o suposto “livre mercado”, que na verdade é uma tela de proteção para a livre atuação de grupos econômicos poderosos.

O planejamento do governo é considerado uma “intervenção exagerada”, um retorno ao “populismo irresponsável” ou mesmo uma “ditadura castro-chavista-comunista”. São deprimentes a ignorância, o desconhecimento e a cultura do ódio presente nessas passeatas e panelaços de setores da oposição. Tudo faz lembrar as múmias chilenas que celebraram a chegada de Augusto Pinochet ao poder. Usam conceitos de forma primária, fazendo incompreensíveis saladas com termos desenterrados da Guerra Fria contra a “ameaça vermelha” e os “guerrilheiros marxistas”. O refrão é a ICIA.

Aqueles que trabalham um pouco melhor com os conceitos sugerem que a volta ao nacional-desenvolvimentismo dos anos trinta, quarenta e cinquenta do século passado é um erro grave. Ao invés disso, propõem ir ainda mais longe. Buscam o velho liberalismo que tão bem apresentou, há 250 anos, o mestre Adam Smith. Sabe-se que a abordagem de um mundo liberal, que um dia pode ter sido parte dos sonhos de homens honestos, desde David Ricardo tornou-se uma proposta malandra, uma teoria hipócrita para beneficiar apenas os maiores e mais fortes. O alemão Friedrich List percebeu e denunciou isso há 170 anos.

Ao mesmo tempo, os poderosos monopólios de desinformação e alienação em massa, controlados por duas ou três famílias em nossos países, também se tornaram caixas de ressonância da “corrupção” e da “insegurança”, supostamente surgidas com os novos governos. A campanha reacionária inclui a proposta de redução da maioridade penal como se fosse a grande solução para os problemas da criminalidade. Assim, “inflação-corrupção-insegurança-autoritarismo”, as quatro rodas da carroça opositora se convertem em “denúncias”, “provas” e “verdades”. Em ação orquestrada, se impõem a ICIA. Por isso, são os próprios meios de comunicação os autoritários e os que conspiram contra a liberdade de expressão. Autodenominam-se os defensores das liberdades individuais, os guardiões da justiça e dos direitos civis. Esses mesmos meios de comunicação são aqueles que nasceram, foram criados e se calaram durante as ditaduras militares. Os mesmos que festejaram a orgia neoliberal, promotora da corrupção, da privatização, da miséria e da insegurança.

Respondendo aos seus inconfessáveis interesses econômicos, denunciam a existência de uma “inflação galopante”, a “maior corrupção da história”, o “autoritarismo crescente” e a “insuportável insegurança”. É uma fórmula para o caos do século XXI, neta do casamento entre os monopólios bancários e industriais e os monopólios de mídia. É o que se vê, com diferentes nuances, principalmente na Argentina, na Venezuela, na Bolívia e no Equador. No Paraguai, há menos de um ano, houve um golpe de Estado respaldado pela grande mídia. No Brasil, vislumbrou-se de forma muito clara a campanha da imprensa golpista contra o ex-presidente Lula e lideranças do seu partido. As hesitações e crescentes concessões do governo de Dilma Rousseff para os grandes grupos econômicos nacionais e internacionais mantêm uma paz aparente, quebrada apenas pelos panfletos porta-vozes de Washington que circulam em nossas bancas.

Finalmente, é importante perguntar o quanto um governo pode controlar a inflação, a insegurança e a corrupção em economias tão concentradas e com níveis tão elevados de controle estrangeiro. Com especulação se gera inflação e, seguindo as receitas ortodoxas, se jogam as taxas de juros para cima, como forma de enriquecer o sistema financeiro. Com ações terroristas e conspirações, com playboys queimando pneus e motoqueiros armados, se aumenta a violência a níveis “intoleráveis”. Com shows de “denúncias” e bombardeios de TV, rádios, revistas e jornais se apresenta um clima de “corrupção generalizada” como “nunca antes”. E toda a ação interventora do Estado para enfrentar as reais causas da inflação (os monopólios privados), a corrupção e a insegurança (heranças do neoliberalismo) é taxada de autoritarismo.

Portanto, devemos nos perguntar até que ponto os níveis de medição das quatro variáveis respondem à influência dos meios de comunicação. E em que medida a percepção das pessoas sobre esses problemas pode estar sendo dirigida pelos monopólios de mídia. A resposta, a nosso ver, leva a uma conclusão: não há nenhuma maneira de avançar com os processos progressistas, populares e democratizantes, sem a implosão e o extermínio destes dois tipos de monopólios privados. Pois, embora a combinação desses quatro fatores, que chamamos ICIA, seja etérea, gasosa e teatral, sua insistente utilização tem imposto constrangimentos e gerado freios consideráveis aos processos de mudança propostos pelos novos governos.

A destruição destes monopólios privados -econômicos e dos meios de comunicação- é essencial e gera pavor nas elites e no capital estrangeiro. Por essa razão os seus defensores são tão críticos a qualquer tentativa de ampliar o controle do poder público, do Estado, sobre essas duas estruturas. Quanto mais cedo os governos progressistas tenham a consciência da gravidade dessa situação, e quanto antes adotem medidas democratizantes, maior a sua chance de êxito. Por outro lado, continuar financiando esses monopólios com enormes e crescentes quantidades de dinheiro público, além de crime, pode ser considerado um estúpido tiro no pé.

(*) Professor do curso de Economia, Integração e Desenvolvimento da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Foz do Iguaçu, Brasil. luciano.severo@unila.edu.br

Menino autista desacreditado por médicos é cotado para prêmio Nobel


Menino autista desacreditado por médicos é cotado para prêmio Nobel



‘Menino autista gênio da física é cotado para um dia levar Nobel. Médicos diziam que ele provavelmente não aprenderia a ler. Hoje, especialistas afirmam que QI do jovem é superior ao de Albert Einstein

Pragmatismo Político / BBC

Aos dois anos de idade, o jovem americano Jacob Barnett foi diagnosticado com autismo, e o prognóstico era ruim: especialistas diziam a sua mãe que ele provavelmente não conseguiria aprender a ler ou sequer a amarrar seus sapatos.

Mas Jacob acabou indo muito além. Aos 14 anos, o adolescente estuda para obter seu mestrado em física quântica, e seus trabalhos em astrofísica foram vistos por um acadêmico da Universidade de Princeton como potenciais ganhadores de futuros prêmios Nobel.

O caminho trilhado, no entanto, nem sempre foi fácil. Kristine Barnett, mãe de Jacob diz que quando criança, ele quase não falava e ela tinha muitas dúvidas sobre a melhor forma de educá-lo.

“(Após ser diagnosticado), Jacob foi colocado em um programa especial (de aprendizagem). Com quase 4 anos de idade, ele fazia horas de terapia para tentar desenvolver suas habilidades e voltar a falar”, relembra.

“Mas percebi que, fora da terapia, ele fazia coisas extraordinárias. Criava mapas no chão da sala, com cotonetes, de lugares em que havíamos estado. Recitava o alfabeto de trás para frente e falava quatro línguas.”

Jacob diz ter poucas memórias dessa época, mas acha que o que estava representando com tudo isso eram padrões matemáticos. “Para mim, eram pequenos padrões interessantes.”

Estrelas

Certa vez, Kristine levou Jacob para um passeio no campo, e os dois deitaram no capô do carro para observar as estrelas. Foi um momento impactante para ele.

Meses depois, em uma visita a um planetário local, um professor perguntou à plateia coisas relacionadas a tamanhos de planetas e às luas que gravitavam ao redor. Para a surpresa de Kristine, o pequeno Jacob, com 4 anos incompletos, levantou a mão para responder. Foi quando teve certeza de que seu filho tinha uma inteligência fora do comum.

Alguns especialistas dizem, hoje, que o QI do jovem é superior ao de Albert Einstein.

Jacob começou a desenvolver teorias sobre astrofísica aos 9 anos. No livro The Spark (A Faísca, em tradução livre), que narra a história de Jacob, ela conta que buscou aconselhamento de um famoso astrofísico do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, que disse a ela que as teorias do filho eram não apenas originais como também poderiam colocá-lo na fila por um prêmio Nobel.

Dois anos depois, quando Jacob estava com 11 anos, ele entrou na universidade, onde faz pesquisas avançadas em física quântica.

Questionada pela rede BBC que conselhos daria a pais de crianças autistas – considerando que nem todas serão especialistas em física quântica -, Kristine diz acreditar que “toda criança tem algum dom especial, a despeito de suas diferenças”.

“No caso de Jacob, precisamos encontrar isso e nos sintonizar nisso. (O que sugiro) é cercar as crianças de coisas que elas gostem, seja isso artes ou música, por exemplo.”

domingo, 19 de maio de 2013

Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças, de Javier Naranjo




Adulto: Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma (Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)

Ancião: É um homem que fica sentado o dia todo (Maryluz Arbeláez, 9 anos)

Água: Transparência que se pode tomar (Tatiana Ramírez, 7 anos)

Branco: O branco é uma cor que não pinta (Jonathan Ramírez, 11 anos)

Camponês: um camponês não tem casa, nem dinheiro. Somente seus filhos (Luis Alberto Ortiz, 8 anos)

Céu: De onde sai o dia (Duván Arnulfo Arango, 8 anos)

Colômbia: É uma partida de futebol (Diego Giraldo, 8 anos)

Dinheiro: Coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos (Ana María Noreña, 12 anos)


Deus: É o amor com cabelo grande e poderes (Ana Milena Hurtado, 5 anos)

Escuridão: É como o frescor da noite (Ana Cristina Henao, 8 anos)

Guerra:Gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz (Juan Carlos Mejía, 11 anos)

Inveja: Atirar pedras nos amigos (Alejandro Tobón, 7 anos)

Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus (Natalia Bueno, 7 anos)

Lua: É o que nos dá a noite (Leidy Johanna García, 8 anos)

Mãe: Mãe entende e depois vai dormir (Juan Alzate, 6 anos)

Paz: Quando a pessoa se perdoa (Juan Camilo Hurtado, 8 anos)

Sexo: É uma pessoa que se beija em cima da outra (Luisa Pates, 8 anos)

Solidão: Tristeza que dá na pessoa às vezes (Iván Darío López, 10 anos)

Tempo: Coisa que passa para lembrar (Jorge Armando, 8 anos)

Universo: Casa das estrelas (Carlos Gómez, 12 anos)

Violência: Parte ruim da paz (Sara Martínez, 7 anos)

Fonte: livro Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças, de Javier Naranjo

Pensamento mediano



Singularmente perversa e infantilizada, nossa classe média é o suporte de uma visão de mundo que transforma exploração em generosidade
Jessé de Souza - O Estado de S.Paulo

A professora Marilena Chauí propõe uma discussão interessante e oportuna acerca da classe média brasileira. Seu julgamento indignado é certeiro, ainda que abstrato e indiferenciado. Mais interessante que o burburinho causado é perceber a "justificação" do privilégio dessa classe para que possamos compreendê-la. Antes de tudo, o que é "privilégio"? E como ele se reproduz? Em todas as sociedades modernas, como a brasileira, os privilégios que asseguram acesso diferencial aos bens ou recursos que todos desejamos, sejam materiais, como carro e casa, sejam imateriais, como o prestígio e o charme que asseguram a conquista de um parceiro erótico, por exemplo, são explicados a partir da apropriação diferencial de certos "capitais" - que vão pré-decidir toda a competição social por todos os bens escassos, materiais e imateriais, que todos desejamos as 24 horas do dia. Esses "capitais impessoais", antes de tudo o capital econômico e o capital cultural, são, portanto, o fundamento opaco e nunca assumido de toda a dominação social injusta.

A regra básica da cegueira na qual todos vivemos é que percebemos o "capital econômico", mas nunca percebemos o "capital cultural". É que o capital cultural não são apenas os títulos escolares de prestígio que garantem à classe média seus empregos bem pagos e reconhecidos. Capital cultural é também e principalmente toda a herança imaterial e invisível, tanto emocional quanto cognitiva e moral, que recebemos desde tenra idade, sem esforço, no convívio familiar, como a habilidade para o pensamento abstrato, o estímulo à concentração - que falta às classes populares e a condenam ao fracasso escolar -, a capacidade de perceber o futuro como mais importante que o presente, etc. Isso tudo somado constrói o indivíduo das classes alta e média como "vencedor" na escola e depois no mercado de trabalho, não por seu "mérito individual", como os indivíduos dessas classes gostam de pensar, mas por uma "vantagem de sangue", familiar e de classe, como em qualquer outra sociedade tradicional do passado.

Como a herança do capital cultural, enquanto pressuposto emocional, cognitivo e moral de todo privilégio, é invisível e opaca à consciência cotidiana, a falácia do "milagre" do mérito individual pode campear á vontade. Esse falso milagre é o fundamento que legitima todo tipo de apropriação injusta de privilégios permanentes, condenando os indivíduos que tiveram o azar de nascer na família e na classe errada à miséria e à humilhação, como se alguém pudesse "escolher" ser pobre e desprezado. A dominação social moderna é produzida por um engodo, uma fraude, uma mentira compartilhada por todos os privilegiados. Mas isso acontece exatamente do mesmo modo nas sociedades que admiramos e imitamos como França, Alemanha ou Estados Unidos.

Mas o que há de especificamente perverso nas classes dominantes brasileiras que não existe nessas outras sociedades? É que no Brasil as classes média e alta não apenas repetem a distorção da realidade que permite perceber o privilégio herdado como se tivesse nascido do próprio esforço, mas também "tiram onda" de que são generosas e críticas. Essa é uma fraude que um republicano americano típico jamais faria. Como isso se tornou possível? Ainda que poucos percebam, o mundo social não é apenas dinheiro e o que o dinheiro compra. O mundo social é também construído por ideias que lhe dão compreensibilidade e orientam o comportamento prático das pessoas. O Brasil moderno tem como seu "mito fundador" - mito esse que coloniza todos os partidos políticos indistintamente - uma reformulação peculiar operada por Sérgio Buarque no "mito nacional" sintetizado por Gilberto Freyre. São de Sérgio Buarque as bases ideais do Brasil que se compreende como oposição entre um Estado ineficiente e corrupto e um mercado virtuoso, santo e eficiente.

Essa ideia absurda - afinal não existe corrupção no Estado que não seja estimulada por interesses do mercado - é hoje uma espécie de segunda pele dos brasileiros, muito especialmente nas classes médias. Por quê? Porque ela confere algo indispensável ao privilegiado que é a necessária "boa consciência" que essas classes precisam ao localizar em um "outro", que ninguém define, uma "elite abstrata" que pode ser todos e ninguém, a fonte de todo mal nacional e se eximir de toda a responsabilidade. Afinal, se todo o mal está no Estado corrupto então se pode continuar, com boa consciência e se achando uma pessoa muito legal, a explorar cotidianamente o trabalho mal pago das classes baixas, que poupa o tempo da classe média para que essa possa se dedicar a incorporar ainda mais capital cultural para reproduzir, em escala ampliada, seus próprios privilégios de classe. O fundamento do privilégio da classe média é, antes de tudo, o "conhecimento" valorizado - que exige tempo para ser apropriado - indispensável à reprodução de mercado e Estado. Essa "luta de classes", invisível e cotidiana, tipicamente brasileira, ninguém vê porque nesse mundo absurdo da irresponsabilidade social também a desigualdade é culpa da corrupção e do patrimonialismo do Estado.

A ideologia do patrimonialismo - leitura, aliás, superficial e distorcida de Max Weber compartilhada por Buarque e pela maioria dos intelectuais brasileiros de hoje - domina, com sua institucionalização partidária, escolar e midiática, toda a vida política do Brasil moderno, abrangendo, por exemplo, em igual medida, tanto o PSDB quanto o PT. Essa é a ideologia da "irresponsabilidade social praticada com boa consciência", que permite encobrir todos os conflitos verdadeiros ao criar falsas oposições e, assim, silenciar as dores e sofrimentos cotidianos de uma das sociedades mais injustas e desiguais do planeta. A nossa classe média é singularmente perversa e infantilizada, apenas por ser o suporte social mais típico de uma visão de mundo narcísica que transforma exploração em generosidade impedindo todo aprendizado possível e toda crítica. Mas a cegueira e o atraso da consciência moral comprometem a sociedade como um todo.

* JESSÉ DE SOUZA, DOUTOR EM SOCIOLOGIA PELA UNIVERSIDADE HEIDELBERG, NA ALEMANHA, É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA E AUTOR DE OS BATALHADORES BRASILEIROS - NOVA CLASSE MÉDIA OU NOVA CLASSE TRABALHADORA? (EDITORA UFMG)

sábado, 18 de maio de 2013

Forbes - Venezuela's Election System Holds Up As A Model For The World


Venezuela's Election System Holds Up As A Model For The World

This article is by Eugenio Martinez, who covers elections for Venezuela’s newspaper El Universal and is the host of the weekly TV show El Termómetro.
Nicolas Maduro

Two weeks ago Venezuelans went to the polls to elect a president to transition their country into the post-Chavez era. Nicolas Maduro, Chavez’s hand-chosen successor, and his opponent, Henrique Capriles, had spent 34 days hurling criticisms and promises back and forth as they attempted to woo voters and guide Venezuela’s future.

Maduro, representing the Chavista movement, was expected to win easily, and few anticipated taht his margin of victory would be an ultra-narrow 1.83%. Judging by his defiant speeches after the election, Maduro seems to believe he inherited the throne and the legitimacy of a wide-margin victory.

However, the slim margin propelled Capriles on a quest for lost votes, a crusade to prove electoral irregularities and cast doubt on the outcome. This campaign has exposed deep political rifts among our citizens when it is essential that the people of Venezuela have the greatest confidence in the election process.
Why The Open Office Fails, And A Solution Susan Adams Susan Adams Forbes Staff
I Banned All Internal E-Mails at My Company for a Week Forbes Leadership Forum Forbes Leadership Forum Contributor

Venezuela employs one of the most technologically advanced verifiable voting systems in the world, designed to protect voters from fraud and tampering and ensure the accuracy of the vote count. Accuracy and integrity are guaranteed from the minute voters walk into the polls to the point where a final tally is revealed.

The system Venezuela uses has some of the most advanced and voter-friendly security features in modern elections. Voters use a touch-sensitive electronic pad to make and confirm their choices. After confirmation, the electronic vote is encrypted and randomly stored in the machine’s memories. Voters audit their own vote by reviewing a printed receipt that they then place into a physical ballot box.

At the end of Election Day, each voting machine computes and prints an official tally, called a precinct count. It transmits an electronic copy of the precinct count to the servers in the National Electoral Council’s central facility, where overall totals are computed.

By mutual agreement between the contenders, 52.98% of the ballot boxes are chosen at random, opened, and their tallies compared with the corresponding precinct counts. This audit step ensures that no vote manipulation has occurred at the polling place. The extent of this audit, the widest in automatic elections, leaves little room for questioning.

The series of tests before, during, and after a Venezuelan election is thorough and intense, conducted in the presence of election officials and political parties to ensure proper functionality and full confidence in the system. When it comes to elections, Venezuela has become a highly advanced nation of auditors, with the most advanced audit tools at its disposal and a voting process that is as transparent as any in the world.

Even though the election to succeed Chavez was announced with only 34 days to campaign and organize the election mechanics, the National Electoral Council and Smartmatic, the company that developed the highly-sophisticated voting machines and the technology supporting them, managed to perform more than 12 audits on the voting platform, many in front of both Capriles’ and Maduro’s representatives.

Like any candidate who suffers a narrow defeat at the polls, Mr. Capriles is entitled to keep his dream alive. He can continue trying to prove that somehow the outcome was affected by a corrupt electoral ecosystem. His people are betting that scrutinizing the manual electoral book and the government-controlled electoral roll will reveal a clue to how their triumph slipped away. In a nation of auditors and entirely transparent election mechanics, that quest is certainly their right, but their chance of changing the election’s outcome may be very slim.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Antonio Gramsci: Odeio os indiferentes


Antonio Gramsci: Odeio os indiferentes

Antonio Gramsci: Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que viver significa tomar partido. Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar.

A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso.

Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis.

Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.

A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes.

Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir.

Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Debian gobernará los portátiles de la Estación Espacial Internacional


Debian gobernará los portátiles de la Estación Espacial Internacional

9/05/2013| por MetalByte|

Así es. En la Estación Espacial Internacional (EEI) han comenzado con la migración de sistemas operativos en sus equipos portátiles, que dejarán de utilizar Windows en favor Debian 6, informa ZDNet.

STS 134 International Space Station after undockingDebian gobernará los portátiles de la Estación Espacial Internacional

No es una novedad que la NASA o la Estación Espacial Internacional hagan uso de Linux, pero sí lo es esta migración, que afecta directamente a los ordenadores que utilizarán los astronautas que, en menor medida, ya utilizaban el clon de RHEL Scientific Linux. Asimismo, el primer robot humanoide construido allá arriba hace uso de Linux.

Ahora bien, ¿por qué dejar de lado a Windows en favor de Linux? ¿No comprenden estos astronautas que en Debian no van a poder utilizar Photoshop, ni Microsoft Office en condiciones? Por no hablar de jugar al Crysis 3… Fuera de bromas, Keith Chuala, contratista de la United Space Alliance, gerente de operaciones computacionales espaciales en NASA y líder del equipo de integración de red y portátiles de la EEI lo explica:

Hemos migrado funciones clave de Windows a Linux porque necesitábamos un sistema operativo que fuese estable y confiable, uno que nos diese el control sobre el mismo. Uno que podamos parchear, ajustar y adaptar en el caso de que lo necesitemos.

En cualquier caso, los responsables técnicos de la EES no ha querido pillarse los dedos y han decidido apostar por Debian 6, que ya tiene demostrado su buen hacer, en vez de dar el salto a la recién salida del horno Debian 7. Así, además, no tienen ni que cambiar el wallpaper ;)

Confissão de um terrorista! - blog do bourdoukan


Confissão de um terrorista!
Mahmoud Darwish*

Ocuparam minha pátria

Expulsaram meu povo

Anularam minha identidade

E me chamaram de terrorista

Confiscaram minha propriedade

Arrancaram meu pomar

Demoliram minha casa

E me chamaram de terrorista

Legislaram leis fascistas

Praticaram odiada apartheid

Destruíram, dividiram, humilharam

E me chamaram de terrorista

Assassinaram minhas alegrias,

Seqüestraram minhas esperanças,

Algemaram meus sonhos,

Quando recusei todas as barbáries

Eles... mataram um terrorista!

*Mahmoud Darwish (1942-2008), poeta palestino, foi Redator-Chefe da Revista Al Jadid, porta-voz da ala árabe do Partido Comunista de Israel, o Rakah.

Os cães da guerra 16 de maio de 2013 Luis Fernando Veríssimo - O Estado de S.Paulo


Os cães da guerra
16 de maio de 2013 | 2h 09


Luis Fernando Veríssimo - O Estado de S.Paulo

A Convenção de Genebra pode ser vista como um monumento à hipocrisia. Ela propõe regras para a barbárie e infere que o que Shakespeare chamou de "os cães da guerra", uma vez soltos, podem ser controlados. E que guerras podem ser cavalheirescas, desde que regulamentadas. Um conceito que por pouco não morreu na Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, as convenções de Genebra, desde a primeira, no século 19, tentam preservar o que, numa guerra, nos distingue de cachorros raivosos. No caso, a hipocrisia é necessária. É outro nome para civilização.

Uma das regras explícitas na atual Convenção de Genebra diz respeito ao tratamento de prisioneiros. O argumento principal de quem defende a repressão e seus excessos durante a ditadura militar no Brasil é que se tratava de uma guerra aberta entre o regime e seus contestadores armados, que sabiam no que estavam se metendo. Só aos poucos estamos conhecendo as atrocidades cometidas na luta contra a guerrilha no Araguaia, da qual a maioria não sobreviveu nem seus corpos foram encontrados. Mas quanto ao que aconteceu nas salas de tortura da repressão não existem dúvidas ou apenas suposições, está vivo na memória dos torturados e suas famílias. Foi quando os cães sem controle da guerra estraçalharam o que poderia haver de simples humanidade no tratamento de prisioneiros, ou o simples respeito a regras convencionadas, por um estado civilizado.

Se a discussão entre os que sustentam que salvaram o Brasil com seus excessos e os que querem que o Brasil conheça a verdade enterrada sem lápide daqueles tempos parece um diálogo de surdos, o grande mudo desta história toda é a instituição militar, que nunca fez uma autocrítica consequente, nunca desarquivou voluntariamente seus arquivos ou colaborou nas investigações sobre o passado, o dela e o nosso, para evitar a cobrança atual. E o que foi feito não era inevitável. Na Itália, por exemplo, na mesma época, o governo enfrentou uma violenta contestação armada sem sacrificar um direito civil, ameaçar uma instituição democrática ou recorrer ao seu próprio terror. Sem, enfim, soltar os cachorros.

A diferença, claro, é que lá era um governo legítimo.

terça-feira, 14 de maio de 2013

O Globo - Élio Gaspari




Brava gente, a brasileira

Elio Gaspari, O Globo

Atribui-se ao professor San Tiago Dantas (1911-1964) uma frase segundo a qual “a Índia tem uma grande elite e um povo de bosta, o Brasil tem um grande povo e uma elite de bosta”.

Nas últimas semanas divulgaram-se duas estatísticas que ilustram o qualificativo que ele deu ao seu povo.

A primeira, revelada pelo repórter Demétrio Weber: em uma década, o programa Bolsa Família beneficiou 50 milhões de brasileiros que vivem em 13,8 milhões de domicílios com renda inferior a R$ 140 mensais por pessoa. Nesse período, 1,69 milhão de famílias dispensaram espontaneamente o benefício de pelo menos R$ 31 mensais.

Isso aconteceu porque passaram a ganhar mais, porque diminuiu o número da familiares, ou sabe-se lá por qual motivo. O fato é que, de cada cem famílias amparadas, 12 foram à prefeitura a informaram que não precisavam mais do dinheiro.

A ideia segundo a qual pobre quer moleza deriva de uma má opinião que se tem dele. É a demofobia. Quando o andar de cima vai ao BNDES pegar dinheiro a juros camaradas, estimulará o progresso. Quando o de baixo vai ao varejão comprar forno de micro-ondas a juros de mercado, estimulará a inadimplência.

Há fraudes no Bolsa Família? Sem dúvida, mas 12% de devoluções voluntárias de cheques da Viúva é um índice capaz de lustrar qualquer sociedade. Isso numa terra onde se estima que a sonegação de impostos chegue a R$ 261 bilhões, ou 9% do PIB. O Bolsa Família custa R$ 21 bilhões, ou 0,49% do Produto Interno.

A segunda estatística foi revelada pela repórter Érica Fraga: um estudo dos pesquisadores Fábio Waltenberg e Márcia de Carvalho, da Universidade Federal Fluminense, mostrou que, num universo de 168 mil alunos que concluíram 13 cursos em 2008, as notas dos jovens beneficiados pela política de cotas ficaram, na média, 10% abaixo daquelas obtidas pelos não cotistas.

Ou seja, o não cotista terminou o curso com 6, e o outro, com 5,4. Atire a primeira pedra quem acha que seu filho fracassou porque foi aprovado com uma nota 10% inferior à da média da turma. Olhando-se para o desempenho de 2008 de todos os alunos de quatro cursos de Engenharia de grandes universidades públicas, encontra-se uma variação de 8% entre a primeira e a quarta.

Para uma política demonizada como um fator de diluição do mérito no ensino universitário, esse resultado comprova seu êxito. Sobretudo porque se dava de barato que muitos cotistas sequer conseguiriam se diplomar. Pior: abandonariam os cursos.

Outra pesquisa apurou que a evasão dos cotistas é inferior à dos não cotistas. Segundo o MEC, nos números do desempenho de 2011, não existe diferença estatística na evasão, e a distância do desempenho caiu para 3%. Nesse caso, um jovem diplomou-se com 6, e o outro, com 5,7, mas deixa pra lá.

As cotas estimulariam o ódio racial. Dez anos depois, ele continua onde sempre esteve. Assim como a Abolição da Escravatura levaria os negros ao ócio e ao vício, o Bolsa Família levaria os pobres à vadiagem e à dependência. Não aconteceu nem uma coisa nem outra.

Admita-se que a frase atribuída a San Tiago é apócrifa. Em 1985, Tancredo Neves morreu sem fazer seu memorável discurso de posse. Vale lembrá-lo: “Nosso progresso político deveu-se mais à força reivindicadora dos homens do povo do que à consciência das elites. Elas, quase sempre, foram empurradas”.

There’s no such thing as a free lunch The Washington Post





West Virginia: Lawmaker wants kids to work for ‘free lunch’

By Diana Reese, Published: April 24, 2013 at 11:40 amE-mail the writer

There’s no such thing as a free lunch, so should we make little Johnny work for his free meal at school? Even if he misses class?
Ray Canterbury (R-) (Bob Bird/AP)

West Virginia state Del. Ray Canterbury (R-Greenbrier) (Bob Bird/AP)

“I think it would be a good idea if perhaps we had the kids work for their lunches: trash to be taken out, hallways to be swept, lawns to be mowed, make them earn it,” said Ray Canterbury, a Republican from Greenbrier and a member of the West Virginia House of Delegates, during debate over Senate Bill 663, also known as the Feed to Achieve Act.

The bill — the first of its kind in the nation — would create a partnership between private donations and public funds to make breakfast and lunch available for free to every student, kindergarten through high school senior, in West Virginia. It’s based on a model program in Mason County that’s improved attendance and decreased discipline problems, according to the school district’s food service director.

Free meals are provided through the National School Lunch Program to students whose family’s income is 130 percent or less of the federal poverty guidelines. For this past school year, that means a family of four with an annual income of $29,965 qualifies. Children with household incomes of 185 percent or less of the poverty guidelines can get reduced-price meals under the program, which — I was surprised to learn — was established in 1946 by the National School Lunch Act.

West Virginia’s Feed to Achieve Act wants to go beyond that by making sure no child goes hungry at school, but Canterbury repeated the theme of “there is no such thing as a free lunch” during the delegates’ discussion of the bill, which had passed the state Senate unanimously.

“If they [students] miss a lunch or they miss a meal they might not, in that class that afternoon, learn to add, they may not learn to diagram a sentence, but they’ll learn a more important lesson,” Canterbury explained. (Note to Canterbury: As a parent, I can tell you that they’re not teaching kids how to diagram sentences in many schools these days.)

He said his parents taught him not to expect handouts and to work hard, according to the State Journal. “I think what we’re doing is undermining work ethic and teaching students they don’t have to work hard,” he said.

Among the delegates making passionate rebuttals during the two-hour discussion was Meshea Poore, a Democrat from Kanawha. “I’m offended that anybody in this body would dare say that a child has to work for their meal,” she said. “If they can’t afford it, tell them to pick up some trash? Tell them to wipe down the chalk board? I cannot believe that anybody in this body would say a first-grader, a second-grader, a third-grader, a fourth-grader, a fifth-grader has to labor before they can eat.”

“It is pathetic that in a country as wealthy as this, that we’re talking about whether we should feed kids or not,” House Majority Leader Brent Boggs (D) said. “Somebody better check your pulse and see if you’re still living if these things don’t touch you.”

The bill passed the House of Delegates with bipartisan support 89 to 9 and is expected to be signed into law by the governor before the end of April.

It’s gotten national attention — not just for Canterbury’s remarks — but because of its goal to use private donations and federal funds in an expanded program to feed schoolchildren. The first step is the establishment of county foundations for collecting private donations to help pay for meal programs and improve the quality of what’s offered.

Because too few students make it to school in time to take advantage of the free or reduced-price breakfast available through the National School Lunch Program, the bill seeks to find ways to increase participation. Suggestions include eating breakfast in class (wonder how teachers feel about that one?) or “grab and go” breakfasts.

It doesn’t take an expert to say kids don’t learn when they’re hungry. Any mom can tell you hungry kids are more likely to misbehave and they’re certainly not receptive to doing long division or memorizing the parts of speech.

The bill sounds like a good idea: We’re talking about kids. They’re hungry. Let’s feed them. And while we’re at it, let’s consider the question asked by John McCuskey, a Republican from Kanawha: “What have we done to get their parents out of poverty?”

Maybe that ought to be the next step.

diana-reeseDiana Reese is a journalist in Overland Park, Kan. Follow her on Twitter @dianareese.